A rodada de pesquisas sobre a popularidade do Governo Lula: Quase nada novo no front
Ao que tudo indica o governo acendeu a luz de preocupação em decorrência da preocupante e persistente tendência de queda de sua avaliação segundo os índices divulgados pela Quaest, seguido pelo IPEC e pela Atlas. O que causa certa estranheza é que justamente em governo que tem exercido um choque de gestão e dado uma guinada administrativa gerando uma melhora no aumento do salário-mínimo, da renda das famílias; aumento da empregabilidade; aumento da taxa de crescimento da economia; um governo cuja maior parte do ministério seja de ministros que efetivamente trabalhem, sendo pouco dados a motociatas e trios-elétricos; seja o que colha aumento da impopularidade. Alguns falaram sobre o impacto da feira... explicaria o recuo do apoio de mulheres, que até então eram mais simpáticas ao presidente, mas isso explicaria o problema como um todo?
Transitamos, então, para o campo da percepção. Se as coisas estão melhorando é preciso que as pessoas percebam esta melhora. Aqui reside o primeiro calcanhar de aquiles do governo. A comunicação continua jurássica. Não há coordenação, ao que parece, nem bombardeamento massivo das muitas e boas ações do governo. O Governo segue patinando na sua comunicação e na forma de fazê-la. Não tem conseguido nem divulgar as suas ações, nem segmentar suas realizações. Talvez aqui resida o problema maior da falta de alcance da juventude, cujos índices de avaliação também pioraram. Bom, admitir a ausência de uma comunicação mal feita porque despreza a segmentação, os nichos sociais, bem como as plataformas nas quais há maior aderência para este ou aquele grupo social, é melhor do que admitir que o partido do governo envelheceu, e envelheceu mal.
Ao falarmos sobre a percepção, voltamos ao extrato evangélico e à redoma que está posta sobre esse segmento sócio-religioso. Desde final de 2022, quando passei a escrever para o OE alerto sobre isso. Não clamei no deserto, pois muitos outros também apontaram para esta realidade. Por outro lado, o governo passou fazendo uma aposta por um viés de leitura marxista: melhore as condições sociais que todos se voltarão para o atual presidente. Ocorre que neste grande hiato entre o Lula 1 e 2 para o Lula 3, o fundamentalismo e a extrema-direita cresceram no país, o que afeta justamente a leitura e a percepção da realidade. Mudaram o "drive". A turma trabalha com pen-drive e o governo querendo inserir o disquete... Outro ponto é que uma máquina de fake news foi criada e segue operante, alcançando numa disparada só, milhões de internautas, em cadeia.
O Governo precisa se mexer em direção aos evangélicos, encontrando caminhos que o aproximem dos pastores das médias e pequenas igrejas, pois estes têm cheiro de gente. É preciso esquecer um pouco essa excrescência de pastor-influencer, mesmo porque a grande maioria destes estão aliançados em torno de um projeto de poder que dista da justiça social tão sonhada e presente no Reino de Deus. Aliás, repito: este é um governo de contenção, de embarreiramento da perda de direitos; não é, nem pode ser, diante de um Congresso Nacional tão mal composto, um mandato de avanços. Estes são o oxigênio da extrema-direita.
O que falta ao governo, então? Parar com certo negacionismo e passar a entender que a configuração social, especialmente pela influência religiosa, mudou. A disposição é outra; a percepção vem embalada pelos short´s, muitos mentirosos, propagados pelo whatsapp. A segmentação na comunicação é uma realidade já faz um tempo. Novos tempos pedem diferentes ações. Que assim seja.
*Os textos publicados pelo Observatório Evangélico trazem a opinião e análise dos autores e não refletem, necessariamente, a visão dos demais curadores ou da equipe do site.
Pr. Dr. Sérgio Ricardo Gonçalves Dusilek é Mestre e Doutor em Ciência da Religião (UFJF/MG); Pesquisador do Núcleo de Estudos e Pesquisa em Filosofia da Religião, da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF/MG); Pesquisador em Estágio de Pós-Doutorado pela UEMS (Bolsista CAPES); Pastor na Igreja Batista
Marapendi (RJ/RJ); Professor do Seminário Teológico Batista Carioca. Autor de Bíblia e Modernidade: A contribuição de Erich Auerbach para sua recepção e co-organizador de: Fundamentalismo Religioso Cristão: Olhares transdisciplinares; O Oásis e o Deserto: Uma reflexão sobre a História, Identidade e os Princípios Batistas; e A Noiva sob o Véu: Novos Olhares sobre a participação dos evangélicos nas eleições de 2022.