Unidade da igreja é corroída pela intolerância
Não fosse a ampla repercussão do vídeo protagonizado pelo pastor Tuparani da Hora Lopes, bem como o debate que se desenrolou, eu não teria assistido a ele. Confesso que propositalmente tenho fugido desse tipo de conteúdo. Em parte porque no início deste ano eu optei por um investimento intencional no único caminho que acredito possível para o desenvolvimento da unidade da igreja, o caminho do serviço, sobretudo aos mais vulneráveis. Meu comentário sobre a fala desse pastor é percorrido por essa opção.
Ao me referir à "igreja", falo do que a Bíblia chama de "Corpo de Cristo", do qual são membros aqueles e aquelas que são seus seguidores em todo mundo, que se evidencia localmente, mas na verdade é invisível, universal, e a respeito do qual nenhum ser humano nessa terra tem a capacidade ou autorização para dizer quem é ou não membro, quem faz ou não parte. Com "unidade", faço referência às palavras do próprio Jesus Cristo no evangelho de João, capítulo 17, quando ele ora ao Deus Pai pedindo que nos "faça um, assim como ele e o Pai são um, no ambiente da trindade".
Muitos, incluindo alguns colegas queridos, julgam absolutamente utópica essa unidade, a consideram cada vez menos possível. Eu me recuso a "jogar essa toalha", persigo a unidade, até porque, da forma como apresentada por Jesus, ela não me parece opcional. A unidade é promovida pelo próprio Deus sobre o seu povo. A sequência lógica desse pensamento é: porque então estamos cada vez mais divididos como evangélicos, sobretudo nesse momento de polarização?
Sobre o vídeo: eu discordo total e frontalmente das palavras proferidas por este homem, dirigindo-se a Deus em oração. Não me identifico em absolutamente nenhuma delas. Deus é amor. Ele não somente ama, ele É amor. Alguém já disse que o amor é a prova maior de que alguém é seguidor de Jesus Cristo. A epístola de João expressa claramente que se alguém diz que ama a Deus, mas não ama as pessoas, esse alguém é mentiroso, pois não é possível dizer que se ama a Deus, que não vemos, quando não se ama as pessoas, que vemos.
Aqui não chego nem perto de emitir opinião sobre o tema que o tal pastor expressa em sua oração, que carrega ideologia política, impressões pessoais, conceitos de justiça, entre outros elementos. Não é esse o ponto. Eu posso até concordar com uma prisão, com o exercício da justiça sobre um criminoso ou malfeitor, mas jamais me alegrarei com seu sofrimento, com sua dor, seja ele culpado ou não. E jamais pedirei a Deus que ele sofra. Posso pedir que Deus traga à luz questões que estão encobertas, e que promova justiça, mas não me atrevo a decretar a pena ou clamar por ela como um tipo de "promotor de justiça divina" ou juiz de acusação.
Acredito que Deus é quem promove a unidade da igreja, mas já entendi que podemos sabotá-la, ou não desenvolve-la como deveríamos. Ao mesmo tempo, fico me perguntando se essa unidade se mostra realmente tão distante, porque o que se vê por aí não é, de fato, a igreja de Jesus, apesar de usar esse rotulo,
De qualquer forma, ao assistir a vídeos como esse, sou obrigado a concordar que há limites sim para a unidade. Tenho me esforçado até o limite, Deus sabe, para enxergar caminhos possíveis de aproximação entre evangélicos, mas aí está um limite que não pretendo ultrapassar.