Silêncio e timidez de evangélicos bolsonaristas é sinal de que a conjuntura política mudou

Silêncio e timidez de evangélicos bolsonaristas é sinal de que a conjuntura política mudou

O silêncio dos evangélicos em relação ao julgamento de Bolsonaro é sintoma de eventos maiores: em primeiro lugar, em tempos de Whatsapp, quase ninguém se importa com o noticiário. Há, também, o desgaste do tema e uma mudança efetiva no clima político.

Na minha comunidade, há pelo menos três bolsonaristas fiéis, mas nenhum dos três, após o 8 de janeiro, está postando frequentemente algo referente a Bolsonaro. Creio que estão se esquivando por não encontrar eco nas suas ideias.  Não acho, no entanto, que eles admitam o bom momento do governo atual e, tampouco, que assumam que há fatos irrefutáveis contra Bolsonaro.

Partindo para um olhar mais amplo, considerando os dados recentes da pesquisa Quest, que mostram um aumento de 5% na aprovação de Lula entre evangélicos, devemos considerar que boa parcela do segmento evangélica é composta por conservadores moderados, e não por bolsonaristas radicais. Na época das eleições, com os ânimos acirrados, essa parcela se uniu ao bolsonarismo. Passado o pleito eleitoral e com a eclosão de atos violentos a partir da vitória de Lula, esses moderados se afastaram do bolsonarismo radical. Há o elemento puramente religioso na base desse comportamento. Ao perceber que o movimento se tornou violento, tendo consequências legais, sendo caracterizado pela grande imprensa como movimento golpista e terrorista, os cristãos, preocupados com a boa fama e imagem - ou seja, cos valores historicamente defendidos pelo Evangelho de pacificidade e moralidade - não queiram ser associados às categorias de golpistas e terroristas.

Além disso, as ameaças de que o Brasil se tornaria comunista, que haveria perseguição religiosa e que a moralidade e os costumes cristãos seriam combatidos, não se concretizaram. Assim, todo o discurso que fundamentou o apoio dos evangélicos fundamentalistas não se concretizou. Somando-se a tudo isso, as fake News estão sendo mais combatidas, desarticulado rapidamente o repertório dos apoiadores do ex-presidente.

Com todas essas mudanças o que acontece é que, aqui e ali, quando há um escorregão no discurso de Lula, ou quando há uma ação que promove a inclusão e/ou respeito às minorias, esses evangélicos que apoiaram Bolsonaro timidamente se manifestam. Mas não há mais o volume e o engajamento de antes.


André Neto é Pastor da Primeira Igreja Batista de Ubatã (BA) . Foi ordenado em 2012, tendo sido antes pastor auxiliar na Igreja Batista da Pituba, em Salvador (BA), e pastor auxiliar na Igreja Batista da Avenida, em Feira de Santana (BA). Licenciado em História pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Bacharel em Teologia pelo Seminário Teológico Batista do Nordeste (STBNE) e mestre em História pela Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS). Além de pastor, é professor do Seminário Teológico Batista do Nordeste e bacharelando em Mídias e Tecnologias pela Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB). Ele pode ser contatado pelo e-mail: pr.andreneto@gmail.com ou pelo Instagram: @prandreneto