Significado do Termo "Neopentecostalismo"

Significado do Termo "Neopentecostalismo"

O termo "neopentecostalismo" é uma expressão difundida no meio acadêmico, religioso e nas mídias através de pesquisas realizadas no âmbito da sociologia da religião pelo pesquisador Ricardo Mariano, da USP. Ele descreve uma mudança significativa que ocorreu no pentecostalismo com o surgimento da Igreja Universal do Reino de Deus no final dos anos 70.

O movimento pentecostal no Brasil foi analisado por estudiosos que produziram diferentes abordagens sobre o fenômeno. A divisão em "três ondas" proposta pelo sociólogo Paul Freston ganhou destaque entre pesquisadores. Essas “três ondas” dividem o pentecostalismo em três fases distintas e através delas podemos compreender as características que diferenciam valores, liturgias, entendimentos do mundo, visão teológica e formas de organização das igrejas pentecostais. A terceira onda do pentecostalismo, identificada a partir do surgimento da Igreja Universal do Reino de Deus, foi identificada por Mariano como produtora de mudanças tão significativas no meio religioso e secular que merecia o registro como uma forma radicalmente nova de apresentação da mensagem bíblica.

O neopentecostalismo trouxe transformações teológicas, como a teologia da prosperidade e a teologia do domínio, e fortaleceu a dimensão da batalha espiritual. Além disso, houve uma modificação na forma de governança das igrejas. Enquanto as duas primeiras ondas adotaram modelos congregacionais, nos quais há igrejas matrizes e outras que surgem vinculando-se a elas, mas tendo certa independência em termos administrativos e litúrgicos, o neopentecostalismo adotou uma estrutura de governo episcopal, centralizando o poder nas mãos um líder que mantem o controle administrativo, teológico e litúrgico das “filiais” que são abertas.

No entanto, o termo "neopentecostalismo" acabou adquirindo uma conotação negativa, pois passou a ser publicamente associado à intolerância religiosa. Além disso, devido à influência da mídia, ficou marcado pela ideia de busca exagerada pela prosperidade financeira, embora essa visão seja uma simplificação do que seja a Teologia da Prosperidade. Entre movimentos sociais e políticos progressistas, o termo é tomado pejorativamente na medida em que identificam “os neopentecostais” como extremamente conservadores, militantes contra a garantia de direitos para minorias e em favor dos interesses de grandes corporações.

Como resultado, são poucos os evangélicos que se identificam voluntariamente como neopentecostais. O termo se tornou, inclusive, uma categoria acusatória, associada a esses estigmas negativos.

*Os textos publicados pelo Observatório Evangélico trazem a opinião e análise dos autores e não refletem, necessariamente, a visão dos demais curadores ou da equipe do site.


Christina Vital da Cunha é professora do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal Fluminense. Coordena o LePar – Laboratório de Estudos Socioantropológicos em Política, Arte e Religião e é editora do periódico Religião & Sociedade (https://www.scielo.br/j/rs/) além de autora do livro Oração de Traficante: uma etnografia e co-autora deReligião e política: uma análise da participação de parlamentares evangélicos sobre o direito de mulheres e de LGBTS no Brasil (2012), entre outros livros e artigos em jornais, revistas e periódicos nacionais e internacionais. Citação VITAL DA CUNHA, Christina. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-4867-1500