React: Christina Vital sobre a fala de Senadora Eliziane Gama em resposta a Marco Feliciano
A CPMI do 8 de Janeiro teve um novo momento de tensão entre a relatora, senadora Eliziane Gama, evangélica da Assembleia de Deus, e o deputado Pastor Marco Feliciano com acusações mútuas de desrespeito e publicações conflituosas nas redes sociais após uma reunião fechada.
Neste quadro, colaboradores reagem a fala da Senadora.
React: Christina Vital da Cunha sobre a fala de Senadora Eliziane Gama em resposta a Marco Feliciano:
Eliziane Gama, senadora da República brasileira disse a outro parlamentar que ele é uma “pessoa abjeta e misógina”. Dirigia-se ao pastor Marco Feliciano (PL-SP). A fala da senadora repercutiu nas redes sociais de evangélicos e não evangélicos. Ela falava em respeito, em perdão, em hipocrisia, no significado do pastoreio, em decoro, em uso das redes sociais para a propagação do ódio, em um evangelho de Cristo que ela segue, um evangelho da paz, do perdão e da graça. Um evangelho da graça não é o da Teologia da Prosperidade, do toma lá da cá, da (tentativa de) imposição da vontade do fiel a Deus. A discussão entre esses dois membros ativos da Assembleia de Deus, a maior denominação evangélica do país, ficaria entre quatro paredes não fosse Marcos Feliciano ter levado o fato as suas redes sociais o fato. Eliziane, em posse da palavra na CPI, revelou à nação o que cristãos e estudiosos da religião estão cansados de saber: a violência intra religiosa. Falamos muito da intolerância inter religiosa e esse debate é fundamental assim como políticas públicas para a superação desse tipo específico de violência. Mas a violência contra mulheres e contra defensores da justiça e inclusão sociais (tomados pejorativamente como “esquerdistas”, “esquerdopatas”) sempre aconteceu nas Igrejas Evangélicas brasileiras e se acentuou nos últimos anos após Bolsonaro tomar a gramática cristã como código de comunicação com bases sociais durante suas campanhas e sua gestão presidencial, fazendo parecer que ser cristão era necessariamente ser de direita, conservador, extremista. Mas o ódio propagado por autodeclarados pastores, como revelou Eliziane Gama, está fazendo sangrar a tal ponto a Igreja Evangélica no país e a população nacional que o veneno do ódio pode virar antídoto esvaziando moral e espiritualmente essas figuras tirando-as dos púlpitos e da política nacional. Segundo dados do Índice de Confiança Social, uma pesquisa realizada anualmente desde 2009 pelo IPEC, as Igrejas seguem como uma das cinco instituições mais confiáveis do Brasil, no entanto, em queda de confiança pública ano a ano chegando ao menor índice em 2023 (70 pontos). Talvez, religiosos e não religiosos estejam muito cansados das violências, ódios e escândalos morais e financeiros em igrejas pelo Brasil à fora.
*Os textos publicados pelo Observatório Evangélico trazem a opinião e análise dos autores e não refletem, necessariamente, a visão dos demais curadores ou da equipe do site.
Christina Vital da Cunha é professora do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal Fluminense. Coordena o LePar – Laboratório de Estudos Socioantropológicos em Política, Arte e Religião e é editora do periódico Religião & Sociedade (https://www.scielo.br/j/rs/) além de autora do livro Oração de Traficante: uma etnografia e co-autora deReligião e política: uma análise da participação de parlamentares evangélicos sobre o direito de mulheres e de LGBTS no Brasil (2012), entre outros livros e artigos em jornais, revistas e periódicos nacionais e internacionais. Citação VITAL DA CUNHA, Christina. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-4867-1500