Raramente um fiel se declara “neopentecostal”

Raramente um fiel se declara “neopentecostal”

De onde vem o termo
Essa categoria de “neopentecostais” no Brasil tem duas grandes referências na academia: a tese do sociólogo Paul Freston e depois a dissertação de mestrado do sociólogo Ricardo Mariano.

De modo geral, os dois descrevem essa categoria apontando para um conjunto de características institucionais, mas também do ponto de vista do comportamento religioso de grupos e igrejas que estavam surgindo, sobretudo a partir da década de 70, com as marcas de serem menos sectárias, menos ascéticas, mais liberais e mais afeitas a atividades extra-Igrejas, ou seja, atividades não só pastorais, para fora dos muros da Igreja, como também se envolver em atividades mundanas, como política, por exemplo.

Problema do termo
Eu respeito a formulação, mas eu a uso com cuidado. Quando Freston descreve as as três ondas do universo evangélico no Brasil, dá margem para pensar que todas as igrejas que surgiram a partir dos anos 1970 são neopentecostais. Isso trouxe prejuízos para análise sociológica. Mariano levou essa questão em conta ao descrever esse fenômeno mencionando a emergência de muitas novas igrejas com características bastante distintas entre si.

A noção de neopentecostal ilumina um modus operandi de grupos evangélicos e de igrejas evangélicas, mas ela não descreve amplamente a diversidade de expressões da religiosidade evangélica nos últimos 50 anos.

O termo neopentecostal no debate público
Essa categoria teve uma história curiosa na medida em que foi adotada pelo próprio universo que ela pretende descrever. Então, neopentecostal passou a ser um termo usado por grupos evangélicos.

O mais importante sobre essa apropriação é que “neopentecostal” raramente é uma categoria autodeclaratória. Mesmo evangélicos de igrejas neopentecostais não dizem: "eu sou um neopentecostal". Normalmente neopentecostal é uma categoria de descrição do outro, o que já diz sobre a desconfiança que paira sobre esse termo. Desconfiança talvez pela ideia do novo como aquilo que não é tradicional, menos autêntico.

*Os textos publicados pelo Observatório Evangélico trazem a opinião e análise dos autores e não refletem, necessariamente, a visão dos demais curadores ou da equipe do site.


Rodrigo Toniol é professor de Antropologia da UFRJ e do programa de pós-graduação da Unicamp. Presidente da Associação dos Cientistas Sociais da Religião do Mercosul. Ele pode ser contatado pelo Twitter e pelo Currículo Lattes ou pelo email rodrigo.toniol@gmail.com