Expansão do pentecostalismo sobre todas as vertentes é o que define cenário religioso brasileiro

Expansão do pentecostalismo sobre todas as vertentes é o que define cenário religioso brasileiro

Sendo o expansionismo constitutivo das religiões ditas universais, caso do cristianismo, no Brasil ele tem exigido um sacrifício: A pentecostalização. Esse fenômeno, identificado pelas ciências sociais há pelo menos trinta anos, atinge católicos, espíritas, batistas, metodistas e, em menor grau, presbiterianos.

A pentecostalização é a incorporação, por outras tradições religiosas, de hábitos, modos, dogmas, ritos e afins pentecostais. Uma estratégia de sobrevivência no concorrido mercado religioso brasileiro onde o pentecostalismo se espalha tipo fogo em mato seco.

Recapitulemos. Os evangélicos seguem firmes e fortes para se tornarem o grupo religioso dominante em um país fundado sobre bases católicas. Mas foi no recente xeque-mate eleitoral, no contexto da anomalia do bolsonarismo religioso, que o elefante na sala deixou de ser "despercebido", sobretudo pelo jornalismo voltado às classes médias, onde agora é cool pregar a urgente escuta aos evangélicos. Antes de tarde do que nunca.

Mas o crescimento evangélico, sendo de vetor pentecostal, torce narizes de setores da elite intelectual, incluindo a evangélica em que predominam os protestantes. Estes, de classe média e bem formados, são minoritários e apresentam queda significativa em sua expansão, segundo os últimos censos (1990-2000-2010). Em breve será mais fácil ter um amigo espírita ou sem religião.

Afinidades entre pentecostais e protestantes é um engodo de gênese ao apocalipse, mas envolve cultura, prestígio e distinção social.

Os pentecostais, apesar de crescerem em todas as camadas sociais, ainda são muito estigmatizados como radicais, incultos e alienados. Proselitismo desenfreado, pensamento mágico, ritos corporais, línguas estranhas, guerra espiritual, teologia do domínio, exorcismo, rodopios e corinhos de fogo acendem as noites mal iluminadas das periferias do Brasil. Os crentes protestantes, com suas aspirações ortodoxas e formalistas, pouco se identificam com tudo isso.

Já nas regiões urbanas centrais, a ameaça mais recente e próxima geograficamente, é o cardápio neopentecostal de igrejas, comunidades evangélicas e churches abocanhando as frações da classe média baixa, que encontram na teologia da prosperidade e na teologia coaching motivação e alento diante da instabilidade da vida econômica e do poder de consumo.

Todavia, no front do ativismo político, onde quase tudo é ideologia, protestantes e pentecostais lutam lado a lado, ainda. Os primeiros contra as elites progressistas. Já os outros miram as hostes malignas. O gatilho para a recrudescência ativista de ambos, quase sempre, é moral.

Por fim, me pergunto. A providência social do Estado atenuaria a necessidade urgente das redes de apoio fomentadas pelas igrejas no contexto de subcidadania? Penso que a denúncia da pobreza e a defesa de um Estado social forte, não necessariamente à esquerda, deveriam ser linhas de frente do discurso político dos protestantes já que na precariedade material da vida os pentecostalismos fazem muito mais sentido.

*Os textos publicados pelo Observatório Evangélico trazem a opinião e análise dos autores e não refletem, necessariamente, a visão dos demais curadores ou da equipe do site.


Jeff Arantes é músico, professor e pesquisador mestrando pela UNICAMP. Investiga interseções entre religião, classe sociais e neoliberalismo em periferias urbanas. Com mais de vinte anos de experiência, também atua como produtor musical no mercado cristão, colaborando com artistas renomados como: Soraya Moraes, Marquinhos Gomes, Marcus Salles, Cleverson Silva, entre outros. Contato: jeffarantes1@gmail.com