Precisamos Falar de Evangélicos e a Ditadura

Precisamos Falar de Evangélicos e a Ditadura

Olá pessoal, gostaria muito de agradecer todos os comentários, críticas e publicações em relação ao meu primeiro texto “Precisamos Falar do Pr. Jack”. Mas precisamos falar sobre os evangélicos e a ditadura. 

“Curiosamente” nesse ano a Páscoa cai em uma data relativamente próxima data em que lembramos os ocorridos entre 31 de março e 01 de abril de 1964. Eu digo “curiosamente”, pois em uma análise mais histórica da narrativa bíblica, Jesus, morreu após uma sessão de tortura, motiva por interesses políticos e executada por militares apoiados por uma população ressentida e líderes religiosos.  O curioso é que após anos, o povo que se denomina seguidor de Jesus apoie um movimento político que também torturou e matou aqueles que são considerados inimigos, perigosos e subversivos. 

Essa “curiosidade” fica mais intrigante quando conhecemos o posicionamento de determinadas denominações evangélicas em relação ao Golpe Civil Militar de 1964. É exatamente sobre isso que precisamos falar.  Em sua pesquisa Mello (2019), afirma que igrejas tradicionais como as Batistas e Presbiterianas apoiaram por meio de sua comunicação oficial a ditadura. Mas diante de toda a agitação política, aconselhavam seus membros a não se envolverem com questões mundanas. 

No caso dos pentecostais, o alinhamento denominacional não foi imediato. Com um perfil de membresia diferente das igrejas tradicionais, os pentecas, por meio do “Mesageiro da Paz”, orientavam seus membros que política era uma coisa mundana e que os males do mundo aguardavam a volta de Cristo (COWAN, 2014). O fato é que o posicionamento dos pentecostais, mas sobretudo da Assembleia de Deus - AD muda após 1977, na ocasião, um pastor sueco chamado Lewi Pethrus concede uma entrevista ao Mensageiro e quebra de vez o silêncio da AD em relação ao cenário político do Brasil. 

A mudança da AD vai em três direções, a primeira é uma aproximação e liderança entre as pessoas mais humildes, a segunda buscava envolver-se em questões político partidárias e por fim uma preocupação humana para além das questões espirituais (ALMEIDA, 2017). Esse posicionamento antecede a formação da bancada evangélica, mas cria um caminho para candidatura oficiais dessa instituição. 

O fato é que nem todas as igrejas foram favoráveis aos crimes e torturas da ditadura. Algumas delas por conta de seu posicionamento, tiveram lideranças presas e torturadas. O que fica evidente é que o atual alimento entre lideranças e denominações evangélicas a grupos defensores da ditadura, é fruto desse posicionamento institucional favorável a ditadura e suas ações violentas. 

Precisamos falar de como a liderança dessas mesmas instituições tem exercido a governança em suas igrejas. Não é incomum o caso de famílias e grupos controlarem conselhos pastorais, setores e a presidência dessas igrejas por anos seguidos, não permitindo oposições, discordâncias ou questionamentos. “Curiosamente” eles isolam, excluem e condenam ao ostracismo oposições de seus mandatos. 

Que possamos ter um futuro em que a tortura, censura, violência e a ausência da liberdade religiosa não seja defendia por líderes religiosos como Caifás, que ao interrogar Jesus motivou e presenciou a violência contra ele sem intervir. Mas esse é outro tema que precisamos falar... 

ALMEIDA, Ronaldo de. “A onda quebrada, evangélicos e o conservadorismo”, Campinas, Brasil, 2017.

COWAN, Benjamin Arthur. “Nosso Terreno” crise moral, política evangélica e a formação da ‘Nova Direita’ brasileira”, Belo Horizonte, Brasil, 2014.

MELLO, Ian. “Luteranos, Batistas e Presbiterianos de Brasília durante a ditadura militar (1964-1985), Anais do Simpósio Nacional de Estudos da Religião da UEG, V. 1. Goiás: UEG, 2019.


*Os textos publicados pelo Observatório Evangélico trazem a opinião e análise dos autores e não refletem, necessariamente, a visão dos demais curadores ou da equipe do site.


Vinícius Gomes é cristão, possui MBA em Gestão da Educação Pública,  Licenciatura em História e atualmente é Mestrando em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Estado de São Paulo. Dedica-se a pesquisar as relações entre os Bolsonaristas e os evangélicos, bem como sua inserção no mundo digital.