Por que a pauta moral evangélica não inclui violência e pobreza?
O episódio do disparo da arma do ex-ministro e pastor Milton Ribeiro no aeroporto de Brasília, no último dia 26 de abril, serve para pensarmos o que é incluído e o que não é incluído na agenda moral dos evangélicos. Diferente do que se costuma pensar, a agenda moral não é algo dado e definido. O que é é incorporado no centro do debate e o que se deixa fora resulta de uma construção política.
A questão do armamento poderia estar dentro da agenda moral. Seria muito possível, para não dizer oportuno, discutir a questão do armamento como uma questão religiosa também. E a questão da violência, inclusive, em termos mais gerais. Só que não é interessante para os líderes evangélicos conservadores que estão em evidência atualmente.
Esses líderes trazem pautas de gênero, pautas de sexualidade e flertam com o conservadorismo, que é muito mais abrangente do que o conservadorismo religioso. Pegam temas que estão em um conservadorismo popular brasileiro geral e não só religioso. Certas pautas como a questão da violência, da desigualdade social, da pobreza, que em certos momentos já estiveram dentro da agenda moral, atualmente vêm sendo renegados.
O episódio descrito de Milton Ribeiro mostra que, na verdade, o que temos é que alguns líderes evangélicos e religiosos, de forma mais geral, que manipulam a agenda política para os seus interesses, para conseguir alavancar sua popularidade e a sua inserção em um universo que é muito mais abrangente do que simplesmente o conservadorismo religioso.
Fazem isso deixando coisas muito importantes dentro da religião de lado e escolhendo coisas que talvez não sejam tão importantes assim, mas que dialogam com com esse conservadorismo de forma mais ampla na sociedade brasileira.