Parlamentares religiosos e conservadores continuam com o ataque contra os direitos da comunidade LGBTQIA+

Parlamentares religiosos e conservadores continuam com o ataque contra os direitos da comunidade LGBTQIA+

A Comissão de Previdência, Assistência Social, Infância, Adolescência e Família da Câmara aprovou o projeto de lei que proíbe o casamento entre pessoas LGBTQIA+ na tarde do último dia 10 de outubro. A aprovação ocorreu após uma manobra do presidente da comissão, deputado Fernando Rodolfo (PL-PE). Segundo parlamentares contrários ao projeto, havia um acordo para a criação de um grupo de trabalho para discutir o relatório e que a votação não aconteceria sem o debate. 

Aparentemente, cumprir com acordos não faz parte da cartilha do presidente da comissão, que se identifica como “cristão e conservador” em suas redes sociais. Assim, o parecer do relator do Pastor Eurico (PL-PE) foi colocado em votação e aprovado com o apoio dos deputados religiosos e conservadores: 12 votos a favor e cinco contra (veja aqui como foi a votação). O texto, cheio de citações bíblicas, usa três vezes o termo “homossexualismo” (usando o sufixo ismo que é relacionado a doenças) e menciona diretamente a homossexualidade como doença por cinco vezes. 

Além disso, cita nomes da psicanálise como Freud e Jung, que associaram a homossexualidade a “perversões” e “aberrações sexuais” e deixa claro que não acredita na evolução do pensamento científico quando lamenta sobre a retirada da lista de doenças do Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, em tradução livre) dos Estados Unidos, na década de 1980. “Percebamos o lamentável desfexo (o correto é desfecho) que se deu quando a militância político-ideológica se sobrepôs à ciência”, escreveu o relator (leia o parecer aqui). 

A deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP), voz mais que atuante da causa LGBTQIA+ no Congresso, criticou duramente a aprovação do texto. “Até os filhos de casais homoafetivos são atacados nesse relatório”. A deputada se refere ao trecho que diz que “as crianças que crescem sob a proteção de um casal homossexual são privadas do valor pedagógico e socializador da complementariedade natural dos sexos no seio da família”.

O relator pastor parece se esquecer que pessoas LGBTQIA+ nascem de famílias que ele classifica como “naturais”, ou seja, formada por papai (homem hétero) e mamãe (mulher hétero), ambos cisgêneros (pessoas que se identificam com seu sexo de nascença). Também parece não se importar com o fato de que milhares de crianças nascidas de “união natural entre os sexos” não conhecem os “homens de verdade” que são seus pais. Uma pesquisa rápida no site Pais Ausentes, do Portal da Transparência do Registro Civil, dá conta que de janeiro a outubro deste ano, quase 135 mil crianças foram registradas apenas com o nome da mãe no Brasil.

O projeto ainda passará por outras comissões antes de ser votado na Câmara, como a de Direitos Humanos, Minorias e Igualdade Racial, da qual Hilton é vice-presidenta. “Lá não ouviremos os discursos religiosos que desrespeitam os religiosos deste país. Porque aquilo que é dito aqui, já disse e repito, não é a voz dos cristãos do Brasil. Aqui estão os fundamentalistas. Aqui estão aqueles que querem pregar o ódio se utilizando da Bíblia, se utilizando de Jesus Cristo para dizer que Ele compactua com essas intolerâncias e com essa brutalidade”, disse após o término da votação na Comissão de Previdência. 

Hilton chamou a aprovação de “farsa medíocre e hipócrita”. “Este projeto terá a oportunidade de ser debatido com seriedade e sob a luz da justiça, da constituição e da democracia”. Especialistas acreditam que o projeto não seja aprovado no Congresso, mas mostra como a pauta conservadora toma tempo do debate parlamentar e ameaça direitos humanos básicos de parte da sociedade, principalmente de assuntos já pacificados por decisões do Supremo Tribunal Federal (STF). Hoje é a proibição do casamento homoafetivo. Amanhã será o quê? Vão apresentar um projeto que transforme a homossexualidade em crime? 

Vejam que o Pastor Eurico aproveitou o parecer e inclui em seu relatório outro tema caro aos cristãos conservadores: o aborto. “Alguns podem argumentar: para se proteger a vida não basta a luta contra o aborto? É preciso também se proteger a união heterossexual com o caráter exclusivo de casamento para estes? A resposta é sim. A luta contra o aborto não é suficiente. Assim como não é suficiente que as tartarugas de pente, hoje em extinção, possam maturar seus ovos até os desovarem. É preciso também proteger o ‘lugar da desova’ do contrário as tartarugas correrão sério risco de extinção por ações predatórias em seus ninhos. Assim também é necessário proteger o casamento, vez que este é como que o ‘lugar de desova’ da família humana, lugar por excelência onde deve ser gerada e protegida a vida humana”. 

Bom, como eu já fui casada e não tive filhos, segundo o deputado pastor eu não cumpri com minha função de ser uma tartaruga de pente no seio de uma tradicional família brasileira. Me desculpe, deputado, eu não desovei. Foi mal.

A Comissão de Previdência, Assistência Social, Infância, Adolescência e Família da Câmara aprovou o projeto de lei que proíbe o casamento entre pessoas LGBTQIA+ na tarde do último dia 10 de outubro. A aprovação ocorreu após uma manobra do presidente da comissão, deputado Fernando Rodolfo (PL-PE). Segundo parlamentares contrários ao projeto, havia um acordo para a criação de um grupo de trabalho para discutir o relatório e que a votação não aconteceria sem o debate. 

Aparentemente, cumprir com acordos não faz parte da cartilha do presidente da comissão, que se identifica como “cristão e conservador” em suas redes sociais. Assim, o parecer do relator do Pastor Eurico (PL-PE) foi colocado em votação e aprovado com o apoio dos deputados religiosos e conservadores: 12 votos a favor e cinco contra (veja aqui como foi a votação). O texto, cheio de citações bíblicas, usa três vezes o termo “homossexualismo” (usando o sufixo ismo que é relacionado a doenças) e menciona diretamente a homossexualidade como doença por cinco vezes. 

Além disso, cita nomes da psicanálise como Freud e Jung, que associaram a homossexualidade a “perversões” e “aberrações sexuais” e deixa claro que não acredita na evolução do pensamento científico quando lamenta sobre a retirada da lista de doenças do Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, em tradução livre) dos Estados Unidos, na década de 1980. “Percebamos o lamentável desfexo (o correto é desfecho) que se deu quando a militância político-ideológica se sobrepôs à ciência”, escreveu o relator (leia o parecer aqui). 

A deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP), voz mais que atuante da causa LGBTQIA+ no Congresso, criticou duramente a aprovação do texto. “Até os filhos de casais homoafetivos são atacados nesse relatório”. A deputada se refere ao trecho que diz que “as crianças que crescem sob a proteção de um casal homossexual são privadas do valor pedagógico e socializador da complementariedade natural dos sexos no seio da família”.

O relator pastor parece se esquecer que pessoas LGBTQIA+ nascem de famílias que ele classifica como “naturais”, ou seja, formada por papai (homem hétero) e mamãe (mulher hétero), ambos cisgêneros (pessoas que se identificam com seu sexo de nascença). Também parece não se importar com o fato de que milhares de crianças nascidas de “união natural entre os sexos” não conhecem os “homens de verdade” que são seus pais. Uma pesquisa rápida no site Pais Ausentes, do Portal da Transparência do Registro Civil, dá conta que de janeiro a outubro deste ano, quase 135 mil crianças foram registradas apenas com o nome da mãe no Brasil.

O projeto ainda passará por outras comissões antes de ser votado na Câmara, como a de Direitos Humanos, Minorias e Igualdade Racial, da qual Hilton é vice-presidenta. “Lá não ouviremos os discursos religiosos que desrespeitam os religiosos deste país. Porque aquilo que é dito aqui, já disse e repito, não é a voz dos cristãos do Brasil. Aqui estão os fundamentalistas. Aqui estão aqueles que querem pregar o ódio se utilizando da Bíblia, se utilizando de Jesus Cristo para dizer que Ele compactua com essas intolerâncias e com essa brutalidade”, disse após o término da votação na Comissão de Previdência. 

Hilton chamou a aprovação de “farsa medíocre e hipócrita”. “Este projeto terá a oportunidade de ser debatido com seriedade e sob a luz da justiça, da constituição e da democracia”. Especialistas acreditam que o projeto não seja aprovado no Congresso, mas mostra como a pauta conservadora toma tempo do debate parlamentar e ameaça direitos humanos básicos de parte da sociedade, principalmente de assuntos já pacificados por decisões do Supremo Tribunal Federal (STF). Hoje é a proibição do casamento homoafetivo. Amanhã será o quê? Vão apresentar um projeto que transforme a homossexualidade em crime? 

Vejam que o Pastor Eurico aproveitou o parecer e inclui em seu relatório outro tema caro aos cristãos conservadores: o aborto. “Alguns podem argumentar: para se proteger a vida não basta a luta contra o aborto? É preciso também se proteger a união heterossexual com o caráter exclusivo de casamento para estes? A resposta é sim. A luta contra o aborto não é suficiente. Assim como não é suficiente que as tartarugas de pente, hoje em extinção, possam maturar seus ovos até os desovarem. É preciso também proteger o ‘lugar da desova’ do contrário as tartarugas correrão sério risco de extinção por ações predatórias em seus ninhos. Assim também é necessário proteger o casamento, vez que este é como que o ‘lugar de desova’ da família humana, lugar por excelência onde deve ser gerada e protegida a vida humana”. 

Bom, como eu já fui casada e não tive filhos, segundo o deputado pastor eu não cumpri com minha função de ser uma tartaruga de pente no seio de uma tradicional família brasileira. Me desculpe, deputado, eu não desovei. Foi mal.

A Comissão de Previdência, Assistência Social, Infância, Adolescência e Família da Câmara aprovou o projeto de lei que proíbe o casamento entre pessoas LGBTQIA+ na tarde do último dia 10 de outubro. A aprovação ocorreu após uma manobra do presidente da comissão, deputado Fernando Rodolfo (PL-PE). Segundo parlamentares contrários ao projeto, havia um acordo para a criação de um grupo de trabalho para discutir o relatório e que a votação não aconteceria sem o debate. 

Aparentemente, cumprir com acordos não faz parte da cartilha do presidente da comissão, que se identifica como “cristão e conservador” em suas redes sociais. Assim, o parecer do relator do Pastor Eurico (PL-PE) foi colocado em votação e aprovado com o apoio dos deputados religiosos e conservadores: 12 votos a favor e cinco contra (veja aqui como foi a votação). O texto, cheio de citações bíblicas, usa três vezes o termo “homossexualismo” (usando o sufixo ismo que é relacionado a doenças) e menciona diretamente a homossexualidade como doença por cinco vezes. 

Além disso, cita nomes da psicanálise como Freud e Jung, que associaram a homossexualidade a “perversões” e “aberrações sexuais” e deixa claro que não acredita na evolução do pensamento científico quando lamenta sobre a retirada da lista de doenças do Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, em tradução livre) dos Estados Unidos, na década de 1980. “Percebamos o lamentável desfexo (o correto é desfecho) que se deu quando a militância político-ideológica se sobrepôs à ciência”, escreveu o relator (leia o parecer aqui). 

A deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP), voz mais que atuante da causa LGBTQIA+ no Congresso, criticou duramente a aprovação do texto. “Até os filhos de casais homoafetivos são atacados nesse relatório”. A deputada se refere ao trecho que diz que “as crianças que crescem sob a proteção de um casal homossexual são privadas do valor pedagógico e socializador da complementariedade natural dos sexos no seio da família”.

O relator pastor parece se esquecer que pessoas LGBTQIA+ nascem de famílias que ele classifica como “naturais”, ou seja, formada por papai (homem hétero) e mamãe (mulher hétero), ambos cisgêneros (pessoas que se identificam com seu sexo de nascença). Também parece não se importar com o fato de que milhares de crianças nascidas de “união natural entre os sexos” não conhecem os “homens de verdade” que são seus pais. Uma pesquisa rápida no site Pais Ausentes, do Portal da Transparência do Registro Civil, dá conta que de janeiro a outubro deste ano, quase 135 mil crianças foram registradas apenas com o nome da mãe no Brasil.

O projeto ainda passará por outras comissões antes de ser votado na Câmara, como a de Direitos Humanos, Minorias e Igualdade Racial, da qual Hilton é vice-presidenta. “Lá não ouviremos os discursos religiosos que desrespeitam os religiosos deste país. Porque aquilo que é dito aqui, já disse e repito, não é a voz dos cristãos do Brasil. Aqui estão os fundamentalistas. Aqui estão aqueles que querem pregar o ódio se utilizando da Bíblia, se utilizando de Jesus Cristo para dizer que Ele compactua com essas intolerâncias e com essa brutalidade”, disse após o término da votação na Comissão de Previdência. 

Hilton chamou a aprovação de “farsa medíocre e hipócrita”. “Este projeto terá a oportunidade de ser debatido com seriedade e sob a luz da justiça, da constituição e da democracia”. Especialistas acreditam que o projeto não seja aprovado no Congresso, mas mostra como a pauta conservadora toma tempo do debate parlamentar e ameaça direitos humanos básicos de parte da sociedade, principalmente de assuntos já pacificados por decisões do Supremo Tribunal Federal (STF). Hoje é a proibição do casamento homoafetivo. Amanhã será o quê? Vão apresentar um projeto que transforme a homossexualidade em crime? 

Vejam que o Pastor Eurico aproveitou o parecer e inclui em seu relatório outro tema caro aos cristãos conservadores: o aborto. “Alguns podem argumentar: para se proteger a vida não basta a luta contra o aborto? É preciso também se proteger a união heterossexual com o caráter exclusivo de casamento para estes? A resposta é sim. A luta contra o aborto não é suficiente. Assim como não é suficiente que as tartarugas de pente, hoje em extinção, possam maturar seus ovos até os desovarem. É preciso também proteger o ‘lugar da desova’ do contrário as tartarugas correrão sério risco de extinção por ações predatórias em seus ninhos. Assim também é necessário proteger o casamento, vez que este é como que o ‘lugar de desova’ da família humana, lugar por excelência onde deve ser gerada e protegida a vida humana”. 

Bom, como eu já fui casada e não tive filhos, segundo o deputado pastor eu não cumpri com minha função de ser uma tartaruga de pente no seio de uma tradicional família brasileira. Me desculpe, deputado, eu não desovei. Foi mal.

*Os textos publicados pelo Observatório Evangélico trazem a opinião e análise dos autores e não refletem, necessariamente, a visão dos demais curadores ou da equipe do site.


Ana Trigo, jornalista, é mestra e doutora em Ciência da Religião pela PUC-SP. Pesquisadora acadêmica da cracolândia desde 2013, é autora da dissertação “Quando Deus entra, a droga sai”: ação da Missão Belém e Cristolândia na recuperação da dependência química na cracolândia de São Paulo; e da tese “Mulher é muito difícil” – o (des)amparo público e religioso das dependentes químicas na cracolândia de São Paulo. Faz parte dos grupos de pesquisa do LAR (Laboratório de Antropologia da Religião – Unicamp) e do GEPP (Grupo de Estudos Protestantismo e Pentecostalismo – PUC-SP). Também integra o coletivo Mulheres EIG – Evangélicas pela Igualdade de Gênero de São Paulo.