Origens, promoção e interesses evangélicos no ensino domiciliar
O Homeschooling é uma pauta ligada à Igreja Reformada Brasileira e às igrejas calvinistas. Essas igrejas discutem mais o tema do que os pentecostais, que quando trazem o assunto, o fazem influenciados por esses protestantes tradicionais e conservadores. Essa é uma pauta claramente influenciada pelos evangélicos norte americanos, sendo um dos assuntos centrais do conservadorismo nos Estados Unidos.
A justificativa do ensino domiciliar é a velha ideia de que a escola seria um antro de marxismo cultural, que a escola vai contaminar as crianças e elas irão abraçar a ideologia de gênero, receber “kit gay”, etc - essas ideias que são presentes também no Bolsonarismo e no Olavismo. Nesse ideário, para prevenir a criança de ter acesso a tudo isso, se oferece o ensino domiciliar. Mas claramente, isso é uma demanda de um crente evangélico conservador de classe média e classe média alta. O habitante da periferia, pentecostal, que sai às 06h00 de casa e chega a 20h00, não tem condições de pensar em um trabalho de educar escolarmente o filho em casa.
Eu, que passei 12 anos em uma Assembleia de Deus de periferia, no Grajaú, zona sul de São Paulo, nunca vi essa discussão dentro da igreja, em nenhum ambiente, nem mesmo em conversa de roda. É um assunto que eu tive contato exclusivamente por meio de expoentes influenciadores digitais, do meio reformado teológico, que são referências intelectuais do meio evangélico.
Por exemplo, há um livro chamado “O que estão ensinando aos nossos filhos”, de Solano Portela, um teólogo da Igreja Presbiteriana do Brasil - a mesma do ex-ministro da Educação, Milton Ribeiro. Nesse livro, a escola é retratada como um antro de contaminação ideológica de esquerda. O livro é prefaciado e apresentado por dois teólogos presbiterianos conservadores, que são relevantes e tem influência no meio evangélico, que são Augustus Nicodemus Lopes e o Mauro Meister. Todos os três já passaram pelo Mackenzie.
Vale dizer que há também um interesse econômico na pauta do ensino domiciliar. O Mackenzie tem um sistema de ensino que está praticamente pronto para um pai comprar para o filho ser educado em casa. Hoje esse sistema não funciona dessa forma, mas se o projeto que está formulado for aprovado, já existe esse programa, que pode ser visto como um preparo para, eventualmente, a implantação da política no Brasil.