Onde estão as megaigrejas brasileiras e por que os evangélicos agora aceitam a adoção de filhos por casais homoafetivos? Pautas a partir do novo Datafolha

Onde estão as megaigrejas brasileiras e por que os evangélicos agora aceitam a adoção de filhos por casais homoafetivos? Pautas a partir do novo Datafolha

Pesquisa Datafolha sobre perfil dos evangélicos brasileiros fez a manchete do jornal de domingo e voltou a render matéria na edição desta segunda-feira (22). O levantamento, feito entre 24 e 28 de junho com 613 moradores da capital paulista, teve consultoria do antropólogo Juliano Spyer e do cientista político Vinicius do Valle, que comandam este Observatório Evangélico.

Além de dar subsídios aos jornalistas que cobrem eleições, a pesquisa tem dados que podem ser explorados em novas pautas de “cotidiano” ou “cidades”. Uma delas é mostrar quais são as megaigrejas de São Paulo e do Brasil. Segundo o Datafolha, apenas 12% dos entrevistados frequentam templos com mais de 500 pessoas. A maioria das comunidades atendem até 200 pessoas, estão situadas nas periferias e nem CNPJ próprio têm.

Quais são as ‘megachurches’ e qual o perfil dos pastores que as lideram?

Outra pauta que me chama a atenção está contida na pergunta: “Você é a favor ou contra a adoção de criança por um casal gay?” Para surpresa de muitos, inclusive a minha, 43% dos respondentes se disseram favoráveis à adoção, e 42% contrários. Ou seja, é empate técnico. A adoção de crianças por casais gays é um tema controverso e minha leitura é que a visão dos crentes a esse respeito está mudando rapidamente.

Quando lancei o livro “Entre a Cruz e o Arco-íris”, em 2013, uma reportagem sobre como as igrejas lidam com a homoafetividade de seus membros, a ideia de que um casal homoafetivo pudesse adotar um filho causava espanto.

Uma última sugestão, ainda com base na pesquisa: o pentecostalismo domina o cenário evangélico brasileiro. Os números, mais uma vez, causam espanto. Dos evangélicos entrevistados pelo Datafolha, 65% se disseram pentecostais (43%) ou neopentecostais (22%), deixando apenas 10% para as denominações históricas (batistas, presbiterianos, metodistas, por exemplo). Detalhar e aprofundar as diferenças entre o neopentecostal e o pentecostal raiz pode ser uma boa pauta. Mais ainda, mostrar as intersecções entre as duas correntes e o sem-número de igrejinhas “avulsas”, criadas na garagem da casa de pastores recém-convertidos, que têm ajudado a transformar a cena religiosa do país.


Marília de Camargo César nasceu em São Paulo, é casada e tem duas filhas. Jornalista, trabalhou nos principais jornais de economia e negócios do Brasil. É também autora de livros que provocam reflexão nas lideranças evangélicas. Suas obras mais conhecidas são Feridos em nome de Deus, Marina — a vida por uma causa e Entre a cruz e o arco-íris.