O que a bíblia ensina sobre a banalidade do mal
Há que se refletir sempre sobre a banalização do mal, conceito estruturado e teorizado pela intelectual Hannah Arendt, mas que já constava na cosmovisão judaico-crista. Lembremos que a Bíblia inicia contando a história da serpente que seduziu o primeiro casal à desobediência.
As últimas semanas foram de lamento nacional. O país chora diante dos ataques às escolas, ao passo que busca encontrar os devidos culpados.
Há que se refletir sempre sobre a banalização do mal, conceito estruturado e teorizado pela intelectual Hannah Arendt, mas que já constava na cosmovisão judaico-crista. Lembremos que a Bíblia inicia contando a história da serpente que seduziu o primeiro casal à desobediência, isso no seu primeiro livro, Gênesis. Essa mesma serpente será retratada no último livro da Bíblia, o livro de Apocalipse, escrito por João, a uma distância de milênios do livro de Gênesis. João retrata a antiga serpente que aparece lá no paraíso, agora como um dragão, que ainda segue no encalço dos seres humanos, visando a destruição da humanidade.
O que a cosmovisão judaico-crista nos ensina com essas duas figuras para descrever o mal?
Aprendemos que a serpente lá do começo, cresceu e virou um grande dragão. Em outras palavras, o mal cresce e ganha espaço e abrangência. Essa é uma das formas simbólicas usada pela linguagem bíblica para nos ensinar que se não julgamos o mal, quando ainda pequeno, ele cresce e sua abrangência também.
Nos últimos anos no Brasil predominou sem dúvida o uso do mal como linguagem comum, isso em todas as instâncias, passando pela política, religião, programas “jornalísticos”, redes sociais etc.
Ultrapassamos a questão da banalização do mal e passamos a usar o ódio como linguagem algorítmica, convencidos de que o ódio gera mais engajamento. O mal cresce e cobra seu preço.
Políticos usando linguagem violenta a torto e a direito. Pastores legitimando ações de violência. Coaches estimulando os homens a assumirem sua macheza com gritos e urros. Influenciers paquerando regimes totalitários e por aí vai…
A violência vista nos dias atuais, em sua face mais covarde e brutal, não é fruto do acaso, mas sim da colheita de uma sociedade que se esquiva de julgar o mal em sua dimensão social e pessoal e por isso além de o ver crescer, o alimenta dia após dia.
A proteção das escolas e da vida como um todo começa bem antes, passa pela consciência de julgar o mal em todas as suas instâncias. Não se pode tolerar nem uma fala, nem uma piada, nem uma brincadeira. Há de se fazer o que Adão deveria ter feito, porém não o fez: lançar a serpente fora do jardim, expulsá-la de lá, mantendo o mal longe, sem deixá-la abrir a boca.
Isso é possível?
Sim! O que Adão não fez no jardim, Jesus faz no deserto (Mateus 4). Tentado pelo diabo, por três vezes Jesus resiste, ensinando que é possível julgar o mal e vencê-lo. Assim, o Diabo aprendeu aquele dia, que tinha um ser humano no qual não podia disseminar a sua maldade.
* Os textos publicados pelo Observatório Evangélico trazem a opinião e análise dos autores e não refletem, necessariamente, a visão dos demais curadores ou da equipe do site.
Calebe Ribeiro é pastor, formado em Teologia e pós graduado em Ministério com a Juventude pela FLAM (Faculdade Latino Americana de Teologia Integral), também é formado em Sociologia pela UNITAU (Universidade de Taubaté). Ele pode ser contado pelo email: calebe.amos.ribeiro@iCloud.com ou pelo Instagram @caleberamosribeiro