O futuro do bolsonarismo no Brasil que será decidido em BH
No último dia 25, o ex-presidente Jair Bolsonaro levou centenas de milhares de pessoas para a Avenida Paulista e mostrou que ao menos parte da força que o fez conquistar 51 milhões de votos continua viva. Ao seu lado, em cima do caminhão de som, estavam alguns de seus aliados. Entre todos aqueles personagens, um ganhará cada vez mais centralidade e atenção pública ao longo deste ano, trata-se do jovem deputado federal Nikolas Ferreira. Jovem, enérgico, originário de uma favela de Belo Horizonte e filhote do bolsonarismo, Nikolas é uma das novas faces da direita brasileira. Sua ascensão política tem sido meteórica: em 2020, aos 24 anos de idade, foi eleito vereador com a segunda maior votação da história de Belo Horizonte. Sequer terminou o mandato porque em 2022 foi eleito deputado federal.
Nas eleições municiais deste ano, Nikolas Ferreira será uma das mais poderosas faces do bolsonarismo sem Bolsonaro no Brasil. Encarnará a novidade da direita brasileira e deslocará a atenção de disputas que historicamente atraem os olhares da nação, como as de Rio e São Paulo, para a capital mineira. E esse deslocamento ocorrerá não somente porque, seja como for, Nikolas Ferreira é um fenômeno da política nacional, mas sobretudo porque a máquina de propaganda bolsonarista fará da disputa em Belo Horizonte, seja tendo Nikolas como candidato ou como cabo eleitoral, um de seus centros de gravitação.
Nikolas Ferreira preenche todos os requisitos de um bom aliado de Bolsonaro: surgiu para a vida pública por meio de um canal do Youtube; combateu fortemente as medidas sanitárias e de isolamento no período mais intenso da pandemia, mobilizando com muita habilidade as formas do discurso negacionista; é um ativista anti direitos sexuais e reprodutivos. Mas Nikolas se distingue, justamente, porque é capaz de dar algumas voltas a mais na cartilha bolsonarista. Em primeiro lugar, Nikolas não só é jovem, como também não tem passado político fora do bolsonarismo. Em segundo, seu berço evangélico e a maneira orgânica com que mobiliza o discurso religioso garantem a ele imensa circulação nos grupos de WhatsApp de religiosos conservadores. Terceiro, em um momento em que o bolsonarismo está acuado, Nikolas sustenta a postura agressiva que garante a ele o lugar daquele que “não tem rabo preso”, que “não tem medo de falar”. Por fim, literalmente, já constituiu uma escola Nikolas Ferreira vendendo cursos para candidatos de direita aos postos de vereador e prefeito no pleito deste ano.
No palanque de Bolsonaro, Nikolas, que tem apenas 27 anos e é filho de pastor, falou em tom de profecia: "Talvez não hoje, talvez não amanhã, mas um dia veremos um presidente de direita retornar à Presidência da República do nosso país”.
Rodrigo Toniol é professor de Antropologia da UFRJ. Membro da Academia Brasileira de Ciências. Ele pode ser contatado pelo Currículo Lattes ou pelo email rodrigo.toniol@gmail.com