O desafio de conversar com o fundamentalismo

O desafio de conversar com o fundamentalismo

Na semana passada, evangélicos debateram intensamente o artigo de Marcos Augusto Gonçalves, publicado no jornal Folha de São Paulo em 11 de julho de 2024. É bastante ilusório, concordo, querer conversar com posturas fundamentalistas, ideologicamente falando. Isso se torna exponencial quando a postura “cristã” se associa a posições ideológicas como, por exemplo, a defesa das armas. Essas posturas buscam o “poder alinhado”, sem perguntas. O artigo de Marcos Augusto discerne bem isso, me parece.

No entanto, a ideologia está obviamente presente no texto do Marcos, como bem expresso na busca pelo embate. Um embate que não foge dos parâmetros do fundamentalismo, ainda que seja um fundamentalismo liberal. O liberalismo pode ser tão fundamentalista quanto o conservadorismo, como sabemos.

O que procuro é me pautar por um evangelho que não desiste do outro, pois Deus não desiste de nós. É por isso que não posso esquecer que o evangelho nos convida a “andar a segunda milha” e a “oferecer a outra face”. Ou seja, não é possível desistir de buscar por espaços de encontro. Também creio na possibilidade da mudança de postura para com o outro como exercício de cidadania.

É por isso que não posso me negar a conversar e a aprender a língua do outro, como apontado por Paul Freston em sua entrevista publicada pela Folha de São Paulo (08/07/24), na busca pelo bem comum e dentro dos parâmetros democráticos, politicamente falando.


Valdir Steuernagel atua junto à Visão Mundial (World Vision) desde 1989, tendo presidido os conselhos nacional e internacional da organização. Hoje é embaixador da Visão Mundial Brasil, da Aliança Cristã Evangélica Brasileira e colunista da revista Ultimato. É pastor luterano com mestrado e PhD pela Lutheran School of Theology em Chicago, nos Estados Unidos. Autor de várias obras, organizou e coescreveu pela Mundo Cristão os livros Formação espiritual e Espiritualidade no chão da vida. É casado com Silêda, com quem tem quatro filhos e sete netos. Juntos se dedicam ao ministério da nutrição espiritual e vocação missional.