Nova Revista da Escola Bíblia Dominical da Assembleia de Deus (AD) é fonte de desinformação e doutrinação política

Nova Revista da Escola Bíblia Dominical da Assembleia de Deus (AD) é fonte de desinformação e doutrinação política

A Escola Bíblia Dominical, conhecida por diferentes grupos evangélicos como EBD, é um espaço educacional privilegiado. Das pequenas igrejas nas periferias e rincões do Brasil às grandes capitais, as EBDs se tornaram importantes centros de formação. Mesmo que no seu epíteto esteja o adjetivo “bíblica”, obviamente, suas classes não tratam somente de assuntos teológicos. Pelo contrário, temas ligados à economia, política, cultura, conjuntura e outros são discutidos e ensinados. Se por um lado, esses espaços provocam a reflexão analítica, interesse pela leitura e avanço intelectual — em algumas regiões é o único lugar disponível de educação continuada —, por outro, podem servir de desinformação e doutrinação em grande escala.

Nas Assembleias de Deus, especialmente as que recebem o material editado pela CPAD (Casa Publicadora das Assembleias de Deus), usa-se a revista Lições Bíblicas, cuja distribuição é gigantesca. De uma só vez, milhares de fiéis se alimentam trimestralmente dessa fonte didático. E por carregar a autoridade estabelecia por tantos anos, tal instrumento pedagógico é recebido, na maioria das vezes, acriticamente. Sendo assim, o último número está gerando preocupação,  pois o impacto negativo é irremediável e gigante.

Com o titulo “A Igreja de Cristo e o Império do Mal: Como Viver Neste Mundo Dominado Pelo Espírito da Babilônia”, a revista é  assinada por Douglas Batista, e os capítulos desse número fazem afirmações imprecisas sobre perspectivas teológicas desenvolvidas na América Latina; confundem o leitor em
relação a conceitos básicos da esfera públicas (progressismo, marxismo, gênero etc.); defendem de forma inacreditável um tipo de liderança masculina natural e a feminilidade submissa; disponibilizam informações equivocadas sobre Renascimento e pós-modernidade; e tratam temas complexos ligados à sexualidade e identidade de gênero sem qualquer preparo técnico e com algumas inverdades. Interessante, em certa parte do texto o autor usa fake news, teorias da conspiração e discursos desconectados da realidade, estratégias tão comuns durante as recentes eleições. O documento chega a afirmar, entre outros alardes absurdos, que há uma coerção do “politicamente correto”. No texto, para citar mais uma entre tantas outras formas de ferror, é dito que a literatura, educação e mídia “promovem o doutrinamento contrário à fé cristã”. Por isso, essa revista de EBD tem servido para disseminação ideológico-partidária, apresentação distorcida de assuntos sérios, multiplicação de inverdades e promoção de equívocos.

A EBD das AD deste trimestre, presente em todo território brasileiro, mostra a perigosa força dessa indústria de educação religiosa e sua capacidade de ser uma máquina de desinformação em massa.

*Os textos publicados pelo Observatório Evangélico trazem a opinião e análise dos autores e não refletem, necessariamente, a visão dos demais curadores ou da equipe do site.


Kenner Terra é doutor em Ciências da Religião pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP). Pastor da Igreja Batista Betânia, RJ, e Coordenador do Curso de Teologia da Universidade Celso Lisboa. Membro da Associação Brasileira de Interpretação Bíblica (ABIB) e da Rede Latino-americana de Estudos Pentecostais (RELEP). Acompanhe o Kenner no YouTube, Twitter e no Instagram.