Neopentecostalismo, hoje, mais prejudica do que explica

Neopentecostalismo, hoje, mais prejudica do que explica

O neopentecostalismo foi um termo criado nos anos 90 pelo sociólogo da USP Ricardo Mariano. Já temos, portanto, 30 anos de debates sobre esse termo que descreve um tipo particular de igrejas surgidas no brasil sobretudo nos anos 1980 e, principalmente, a Igreja Universal do Reino de Deus, mas tambem a Internacional da Graça e a Igreja Renascer, entre outras. Mas os “novos pentecostalismos” que foram se estabelecendo a partir dos anos 2000, com características culturais e religiosas diversas, escapam do que Ricardo Mariano discutia naquele momento.

Esses grupos surgiram a partir de dissidências das igrejas pentecostais incluindo, por exemplo, as chamadas tribos evangélicas, movimentos underground, movimentos de juventude, movimentos de população LGBT das igrejas inclusivas. Eles têm algumas características do neopentecostalismo (a tríade cura, exorcismo e prosperidade) e, ao mesmo tempo, características originais; por isso, usar o termo neopentecostalismo hoje mais prejudica do que explica.

Ao mesmo tempo vemos o envolvimento crescente, principalmente da Assembleia de Deus e da Universal, com o campo da política. E a aproximação desses políticos evangélicos com o bolsdonarismo nos últimos anos. Por causa disso, o termo neopentecostal passou a ser usado como sinônimo dos grupos evangélicos conservadores nas pautas da moralidade sexual, dos ataques às esquerdas, aos movimentos feminista, LGBT e às comunidades tradicionais. E, como consequência, todas as igrejas desses novos pentecostalismos acabaram recebendo esse mesmo rótulo.

Foi dito, em algum momento, que os neopentecostais estavam com o Bolsonaro, MAS NAO havia neopentecostal no governo. Tínhamos o pentecostal no Ministério do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, Damares Alves  do Evangelho Quadrangular, que vinha do universo pentecostal. Marcelo Álvaro, Antônio, da Maranata. E os ministros que eram praticamente todos de igrejas históricas, batistas, presbiterianos. Apenas no finalzinho, havia o Bruno Bianco na AGU, que é da Sara a Nossa Terra, mas esta igreja se revestiu  de caracteristicas bem distintas das originalmente classificadas como neopentecostais.

Por isso a categoria neopentecostal já não serve como categoria explicativa, em primeiro lugar, por causa da diversidade do mundo evangélico a partir dos anos 2000. Em segundo lugar, pelo termo ser usado de forma incorreta, associando neopentecostal ao ultraconservadorismo, ao fundamentalismo.

Tenho adotado a classificação recentemente proposta pelo sociólogo Alexandre Brasil Fonseca. Ele apresenta uma tipologia dos evangélicos que não está relacionada tão só à linha cronológica ou doutrinária, mas agrupando igrejas com base nas  ideologias presentes nos seus discursos: ecumênicas, da Missão Integral, da prosperidade, entre outras.

*Os textos publicados pelo Observatório Evangélico trazem a opinião e análise dos autores e não refletem, necessariamente, a visão dos demais curadores ou da equipe do site.


Magali Cunha é pesquisadora em Comunicação, Religiões e Política e jornalista. Integra a equipe do Instituto de Estudos da Religião (ISER), é editora-geral do Coletivo Bereia - Informação e Checagem de Notícias, colaboradora do Conselho Mundial de Igrejas e membro da Associação Mundial de Comunicação Cristã (WACC). Pode ser contatada pelo Twitter @magalicunha ou pelo e-mail: magali.ncunha gmail.com