NEM SÓ DE MAUS EXEMPLOS VIVE O TRABALHO MISSIONÁRIO ENTRE OS POVOS ORIGINÁRIOS

NEM SÓ DE MAUS EXEMPLOS VIVE O TRABALHO MISSIONÁRIO ENTRE OS POVOS ORIGINÁRIOS
Pr. Gunther Carlos Krieger com índigenas Xerentes.

Sim, eu sei do seu desconforto ao ler o título desta coluna. Também sei do grande preconceito que se tem com o trabalho evangélico entre indígenas, o qual não é desmotivado. Basta pensar nas denúncias de má aplicação de verbas públicas para o cuidado com a saúde indígena que foram parar nas contas de certas organizações paraeclesiásticas, bem como os muitos relatos de desrespeito à cultura dos povos originários.

Contudo, nem tudo são espinhos. Há muitos missionários que conjugam sua vocação missional com o respeito cultural. Infelizmente, esses bons exemplos não recebem a devida atenção, pela ausência do pressuposto denunciativo. Não dão "ibope".

Por esta razão, quero trazer a lume o trabalho do maior missionário batista em atividade, Pr. Gunther Carlos Krieger que há 65 anos dedica sua vida ao trabalho missionário com os índios Xerentes.

Pr. Krieger chegou à pé na Aldeia da Baixa Funda em 06/09/1958. Uma vez estabelecido o contato, imergiu na cultura xerente, conhecendo seus hábitos, valores, crenças e festas. Como é comum em povos originários, a força da tradição cultural está na oralidade, por serem, naquele momento, ágrafos.

Pr. Krieger, com sua vocação linguística, juntamente com aqueles indígenas, desenvolveu uma proposta de alfabeto para aquele povo que preservasse o sentido dado, por trás de cada ideograma. Tornou-se possível, desta forma, a preservação cultural do povo Xerente também pela escrita.

A tradução do segundo testamento para a língua xerente também foi feita. Um trabalho cuidadoso, minucioso, dedicado.

No meio evangélico, nem tudo são espinhos. Há flores no nosso meio. Pr. Kieger e sua esposa Wanda são exemplo disso. Que tal falarmos dos bons exemplos, e deixarmos os "mortos sepultarem seus próprios mortos" dos maus exemplos?

*Os textos publicados pelo Observatório Evangélico trazem a opinião e análise dos autores e não refletem, necessariamente, a visão dos demais curadores ou da equipe do site.


Pr. Dr. Sérgio Ricardo Gonçalves Dusilek é Mestre e Doutor em Ciência da Religião (UFJF/MG); Pesquisador do Núcleo de Estudos e Pesquisa em Filosofia da Religião, da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF/MG); Pastor na Igreja Batista Marapendi (RJ/RJ); Professor do Seminário Teológico Batista Carioca. Autor de Bíblia e Modernidade: A contribuição de Erich Auerbach para sua recepção e co-organizador de: Fundamentalismo Religioso Cristão: Olhares transdisciplinares; e O Oásis e o Deserto: Uma reflexão sobre a História, Identidade e os Princípios Batistas. Contato: sdusilek@gmail.com