Música gospel expressa experiências evangélicas e impulsiona conversão
Há anos venho estudando a dinâmica do meio evangélico, focalizando as iniciativas musicais realizadas por fieis e voltadas a fortalecer a adesão e impulsionar a conversão religiosa. Assim, abordei o funk gospel, surgido na década de 1990, e depois a música negra gospel, que diversos jovens negros produziam e executavam em estabelecimentos do subúrbio do Rio de Janeiro e na baixada fluminense. Os dois trabalhos tratam da conhecida música gospel – um gênero musical que compreende a apropriação de diferentes ritmos nacionais e internacionais e tem sido um relevante bem religioso.
O artigo “Música, conversão e ativismo entre os evangélicos”, publicado recentemente pela Revista Numen - dedicada aos estudos e pesquisas da religião-, tem por ponto de partida a relação entre a atividade musical e a ampliação do meio evangélico, que é confirmada por Censos produzidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O seu foco está em uma vertente musical que aponta para uma vivência religiosa que destaca outras teologias, sobretudo aquelas atentas às questões sociais, às desigualdades de raça e gênero, por exemplo.
Se há maneiras de ser evangélica/o, o artigo oferece subsídios sobre o entendimento de como isso pode ser construído, considerando as visões defendidas, os diálogos estabelecidos, os sentidos alcançados e as tensões envolvidas. Isso expressa modos de interação com o tempo vivido, principalmente quando a experiência religiosa é marcada pela construção do que é ser negra/o no meio evangélico e intersecciona com o sensível e necessário movimento que há muito ressalta que “vidas negras importam”.
Márcia Leitão Pinheiro é doutora em Antropologia pelo Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (PPGSA/UFRJ). Professora associada da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (Uenf).