Ouça o Espírito — Mas Ouça o Mundo: a inércia evangélica frente às mortes em Gaza

Ouça o Espírito — Mas Ouça o Mundo: a inércia evangélica frente às mortes em Gaza

A morte de bebês por inanição em Gaza é uma tragédia que requer atenção imediata. Diante do cenário desolador de um conflito político e territorial, é inaceitável que os mais vulneráveis paguem o preço mais alto. Sem a oportunidade de experimentar a vida, essas crianças enfrentam a fome e a desnutrição devido às condições precarizadas impostas pelo cerco a Gaza e à falta de acesso a recursos básicos.

É relevante notar como alguns grupos evangélicos ultrarradicais da direita dão apoio cego e acrítico a Israel, muitas vezes ignorando as violações dos direitos humanos e a miséria que assola o povo palestino. Sob uma perspectiva distorcida, a ideia de Israel é concebida como uma versão moderna do Israel bíblico, mas essa perspectiva simplista ignora a complexidade da situação atual e o sofrimento real dos palestinos.

O problema se agrava pelo silêncio exorbitante das igrejas que apoiam fervorosamente Israel, mas que permanecem inertes diante das tragédias humanitárias que ocorrem em Gaza e em outras partes da Palestina. Esse silêncio é uma omissão de responsabilidade moral e uma afronta aos princípios fundamentais do cristianismo, que pregam compaixão, justiça e amor ao próximo.

É crucial reconhecer que o conflito entre Israel e Palestina não é apenas uma questão de política, mas também de direitos humanos e dignidade humana. Negar o sofrimento dos palestinos e ignorar as injustiças perpetradas em nome da segurança nacional é uma afronta aos valores fundamentais da humanidade.

Em vez de se apegar a narrativas desproporcionais e ideológicas, é hora de buscar uma abordagem mais equilibrada e compassiva para lidar com este conflito. É necessária uma disposição para reconhecer e enfrentar as injustiças cometidas por todos os envolvidos, bem como um compromisso sincero com a promoção da paz e da justiça para todos os habitantes da região.

Precisamos desafiar as narrativas que retratam Israel como o único agente bondoso nesse conflito e os palestinos como os únicos responsáveis por seu sofrimento. Somente reconhecendo a humanidade e a dignidade de todos os envolvidos, poderemos chegar a uma solução justa e duradoura para a crise em questão.

Diante da morte de inocentes, especialmente de recém-nascidos por inanição em Gaza, devemos renovar nosso compromisso de defender os direitos humanos e trabalhar incansavelmente pela paz e justiça na Terra Santa e no mundo. Que as tragédias nos motivem a tomar atitudes de compaixão, solidariedade e determinação para assegurar um futuro promissor para todos os habitantes da região.

Escolher o silêncio também é uma maneira de se posicionar.

*Os textos publicados pelo Observatório Evangélico trazem a opinião e análise dos autores e não refletem, necessariamente, a visão dos demais curadores ou da equipe do site.


Lucas Medrado é doutorando em Letras pela Universidade de São Paulo (USP). Mestre em Ciências da Religião pela Universidade Metodista de São Paulo. Especialista em História e Teologia do Protestantismo no Brasil pela Faculdade Teológica Batista de São Paulo. Especialista em Psicopedagogia Clínica e Institucional pela Universidade Santo Amaro. Graduado em Letras Português/Inglês pelo Centro Universitário Estácio Radial de São Paulo. Membro da Rede Latino-americana de Estudos Pentecostais (RELEP). É autor do livro Cristianismo e Criminalidade (Fonte Editorial). Pastor auxiliar na Caminho da Cruz