Marçal representa rompimento de evangélicos com Bolsonarismo
Queridos leitores e leitoras, este é um texto de opinião, portanto, não se trata de uma análise formal. Recentemente, a política institucional tem sido alvo de debates, especialmente em função da atuação estratégica de Pablo Marçal. Sua postura tem gerado polêmicas, tanto pela forma como se apresenta quanto pela reação de seus opositores. No momento em que escrevo este texto, a violência marcou os últimos debates, com cenas de cadeiradas e socos (espero que tenha parado por aí).
Como se isso não bastasse, além da postura agressiva nos debates, Marçal faz uso de discursos que muitas vezes estão diretamente ligados à Bíblia (geralmente de forma equivocada), trazendo à tona um imaginário bíblico associado ao triunfalismo pentecostal.
Contradições marcam essa postura. Apesar de citar textos bíblicos, Marçal enfrenta forte oposição de lideranças evangélicas, seja de forma direta ou indireta. Por exemplo, o Pastor Silas Malafaia, figura conhecida na direita evangélica, tem travado uma verdadeira cruzada contra Marçal, acusando-o de ser bipolar, megalomaníaco e mentiroso. De maneira mais sutil, o Pastor Samuel Câmara, ao apoiar diretamente Ricardo Nunes, também faz oposição a Marçal. Além disso, os batistas parecem ter se alinhado a Nunes, que, aproveitando os deslizes de Marçal, faz uma peregrinação em busca de votos e orações em templos evangélicos, sempre reforçando sua identidade cristã.
A realidade é que Marçal representa uma possível saída dos evangélicos do Bolsonarismo. Explico: as eleições de 2018 e 2022 foram marcadas pela massiva participação de evangélicos na campanha de Jair Bolsonaro. Embora Marçal não tenha o apoio oficial do Bolsonarismo, sua candidatura, que rompe com o legado de Bolsonaromas mantém uma forma de atuação semelhante, simboliza uma ruptura com o Bolsonarismo. Além disso, evidencia a incapacidade de Bolsonaro em converter seu eleitorado em uma nova liderança de impacto.
Por outro lado, não votar em Marçal também configura uma ruptura, especialmente a médio e longo prazo. O voto evangélico em qualquer outro candidato representa um afastamento do Bolsonarismo. Porém, o apoio específico a Nunes sugere uma versão mais moderada do Bolsonarismo (se é que isso existe). Mais do que isso, aponta para uma reorganização da direita sob figuras como o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e Gilberto Kassab (PSD). Ou seja, a escolha de não votar em Marçal pode sinalizar o afastamento dos evangélicos como militantes da extrema direita.
Em ambos os cenários, Marçal é, de certa forma, uma saída para os evangélicos. Seja como um rompimento direto com o Bolsonarismo ou como uma transição para uma nova direita, sua candidatura traz novas possibilidades para o eleitorado evangélico.