"Los Hermanos": história das iglesias hispanas em São Paulo.

"Los Hermanos": história das iglesias hispanas em São Paulo.

Para quem vive em grandes capitais, não é novidade encontrar em algum momento imigrantes. Em específico na cidade de São Paulo, essa relação entre imigrantes e a formação da cidade é feita de forma intrínseca, contínua e plural.

No começo do século XX, a presença de italianos, espanhóis, portugueses e japoneses, modificou a identidade do paulistano e vemos isso na nossa língua, música, alimentação e formação dos espaços urbanos de cultura e lazer. Zélia Gattai em “Anarquistas Graças a Deus”, conta um pouco como essa comunidade formulou o que temos hoje. O gigante Florestan Fernandes em seu texto “Trocinha do Bom Retiro” e obras não tão conhecidas como “Malandros na Terra do Trabalho e “Nem tudo era Italiano”, dos meus mestres Marcia Ciscati e Carlos José Ferreira dos Santos, nos oferecem um panorama mais acadêmicos dessa constante modificação do ser paulistano, que não se enquadra em um simples texto.

Na segunda metade do século, a chegada massiva de migrantes do norte e nordeste reformulou novamente a divisão dos espaços da cidade, o deslocamento de negros, nordestinos, imigrantes pobres entre outras massas de excluídos, reformulou o sentido de periferia expressa por Racionais na frase “da ponte pra cá, antes de tudo pe uma história”. Neste sentido, não apenas os espaços urbanos foram modificados, mas ainda existe a emergente necessidade de  reconhecimento do trabalho intelectual e físico em processo de construção desse grupo.

No início do século XXI novos fluxos de imigrantes foram perceptíveis no Brasil. São oriundos de regiões da “África subsaariana, de países do Sul da Ásia e do Haiti” (C MARA, p. 15, 2014). Outros fluxos são ainda mais perceptíveis no sentido cultural, nossos irmãos latinoamericanos de Colômbia, Equador, Venezuela, Peru, Paraguai e Bolívia, mostram-se presentes em cidades como São Paulo e apresenta carências como moradia, acesso a documentação, direitos trabalhistas, saúde e educação. Para além disso, é possível identificar uma forma de organização religiosa institucionalizada e própria deste grupo. Cultos em espaços caracterizados etnicamente, com vestimentas, bandeiras e linguagem que chamaremos de igreja hispana.

É pensando nesse cenário que eu e meu grande amigo Carlos Martins, pastor, missionário e integrante de uma dessas “iglesias”, faremos uma série de textos apontando pensamentos sobre uma dessas comunidades de igreja hispana em São Paulo. Nosso objetivo é apresentar como essas igrejas estão inseridas na cidade, como os cultos (liturgia, grupo e opção teológica) se diferenciam e se aproximam dos cultos evangélicos das igrejas brasileiras. Contribuindo para um maior entendimento do fenômeno evangélico no Brasil, mas não do Brasil apenas.

Trata-se de uma igreja com cerca de 200 membros,no bairro Jardim Brasil, zona norte de São Paulo. Atualmente é pastoreada por André Antônio que é um pastor missionário e está à frente da congregação há cerca de 10 anos. Além de pregador, Pr. André é um mestre, com vários livros escritos. Além da congregação do Jardim Brasil, existem outras três comunidades na mesma região. A igreja está ligada às Assembleias de Deus do Ministério Belém.

A comunidade é formada por adultos, jovens e crianças. Tanto adultos como os jovens, têm uma carga horária bem intensa, nas "oficinas" isto é, costuras, em uma rotina onde eles têm apenas o domingo para o lazer e descanso. Daí a necessidade de uma liturgia empolgante e cultos marcados com louvores, danças e palavras. Nesse aspecto as danças se diferenciam das realizadas nas igrejas brasileiras, as mulheres que participam, se vestem com roupas diferentes, além de utilizarem meia-luas para acompanhar os ritmos das músicas. Esse é um dos itens que trataremos nos próximos textos, com o objetivo de mapear e apontar como essas comunidades têm crescido entre os hispanicos da cidade de São Paulo.

*Os textos publicados pelo Observatório Evangélico trazem a opinião e análise dos autores e não refletem, necessariamente, a visão dos demais curadores ou da equipe do site.


Vinícius Gomes é cristão, possui MBA em Gestão da Educação Pública,  Licenciatura em História e atualmente é Mestrando em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Estado de São Paulo. Dedica-se a pesquisar as relações entre os Bolsonaristas e os evangélicos, bem como sua inserção no mundo digital.

Carlos Martins é  formado em teologia pela FAESP e Missiologia pela IBAD - AD Imperatriz do Maranhão. Em formação no Bacharelado  da IBETEL. Atualmente é presbítero na Assembleia de Deus, Ministério Belém.