Ilhas de Calor em SP: ecoteologia, racismo ambiental e a luta por justiça climática

Ilhas de Calor em SP: ecoteologia, racismo ambiental e a luta por justiça climática

Uma recente reportagem do jornal Estadão, baseada em pesquisas de universidades de renome, como a USP, Universidade Lusófona, UFSCar e a UFBA, revelou um problema alarmante: a desigualdade térmica em São Paulo. Os bairros ricos e arborizados contrastam com as áreas periféricas, onde a falta de vegetação e o excesso de concreto criam “ilhas de calor”, com temperaturas até 10 °C mais altas.

Esta situação é particularmente grave para idosos e crianças, que são particularmente vulneráveis ao calor extremo. A falta de planejamento urbano, associada à construção irregular de moradias em favelas e à falta de áreas verdes, agrava o problema. O UrbVerde confirma essa diferença, mostrando que bairros como Jardim Ângela, Cidade Ademar, Ermelino Matarazzo e outros sofrem com a falta de vegetação.

É imprescindível uma discussão ampla sobre esse assunto, que transcenda as esferas acadêmicas e governamentais. As comunidades religiosas que vivem nas periferias devem estar envolvidas com questões sociais, ao poderem desempenhar um papel crucial nessa discussão. A ecoteologia, que analisa a relação entre a fé e o meio ambiente, pode oferecer uma nova perspectiva sobre o problema. Considerando diferentes visões sobre a criação, os locais religiosos conseguem mobilizar suas comunidades para a ação.

Esta abordagem, quando associada a políticas públicas eficientes, pode resultar em soluções concretas. A implantação de árvores, a criação de parques e a melhoria das condições de moradia nas periferias são medidas fundamentais para minimizar os efeitos das ilhas de calor. É relevante também debater o racismo ambiental, que torna a população negra mais vulnerável aos efeitos das mudanças climáticas. A luta pela sustentabilidade deve ser parte integrante da busca por uma cidade mais justa e igualitária.

A Secretaria Municipal do Verde e Meio Ambiente tem se esforçado para criar áreas verdes em bairros periféricos, mas ainda há muito a fazer. A participação da sociedade civil, incluindo as comunidades religiosas, é crucial para pressionar por mais iniciativas e assegurar que a questão do clima seja tratada como uma prioridade. Não se trata apenas de saúde pública, mas também de direitos humanos. Todos os cidadãos, sem distinção de localização ou renda, devem ser protegidos.

Diante de um cenário de mudanças climáticas cada vez mais intensas, a necessidade de agir é indiscutível. A cidade de São Paulo tem a chance de liderar essa mudança, se tornando um exemplo de como lidar com a disparidade e construir um futuro mais sustentável e equitativo para todos.

REFERÊNCIAS

LIMA, Juliano Domingues. THAYNAN, Lucas. Você mora em uma ilha de calor? Consulte sua rua no mapa interativo de SP. Estado de São Paulo, São Paulo, 16, julho de 2024. Reportagem Especial. Disponível em: https://www.estadao.com.br/sao-paulo/voce-mora-em-uma-ilha-de-calor-consulte-sua-rua-no-mapa-interativo-de-sp/ Acesso em: 4, agosto de 2024.

https://urbverde.iau.usp.br/

*Os textos publicados pelo Observatório Evangélico trazem a opinião e análise dos autores e não refletem, necessariamente, a visão dos demais curadores ou da equipe do site.


Lucas Medrado é doutorando em Letras pela Universidade de São Paulo (USP). Mestre em Ciências da Religião pela Universidade Metodista de São Paulo. Especialista em História e Teologia do Protestantismo no Brasil pela Faculdade Teológica Batista de São Paulo. Especialista em Psicopedagogia Clínica e Institucional pela Universidade Santo Amaro. Graduado em Letras Português/Inglês pelo Centro Universitário Estácio Radial de São Paulo. Membro da Rede Latino-americana de Estudos Pentecostais (RELEP). É autor do livro Cristianismo e Criminalidade (Fonte Editorial). Pastor auxiliar na Caminho da Cruz.