Filhos de Deus
“Bem-aventurado os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus” Mateus 5:9
O mundo assistiu ao funeral do ex-presidente dos Estados Unidos, Jimmy Carter, com o destaque pela imprensa internacional para conversa ao pé do ouvido entre Brack Obama e Donald Trump. Mais tarde, especialistas em leitura labial afirmaram que o primeiro propôs de se encontrarem em “um lugar mais quieto” para conversar sobre a acordos internacionais, como o Acordo do Paris e a negociação nuclear com o Irã, os quais o segundo declinou em seu primeiro mandato. Sinceramente, espero que ao iniciar a cerimônia com músicas convidando a uma introspecção em tributo à honra de Jimmy Carter, que os senhores ex e futuro presidentes tenham prestado a atenção ao que acontecia.
É sempre de se esperar elogios nestas cerimônias, mesmo para o menos digno dos seres humanos. No entanto, causa espécie o discurso de um ex–adversário político que fora vencido nas eleições presidenciais, no caso Gerald Ford. Após ser empossado como 39º presidente dos Estados Unidos, Carter tornou-se amigo do republicano, sendo que suas famílias também se aproximaram; e ambos combinaram de um falar no funeral do outro, assim, Ford deixou redigido seu discurso, para que anos mais tarde, o filho Steven Ford o lesse. Em 2007, Carter prestou honras ao amigo. Este exemplo apenas já seria suficiente para encerrar, pois vivemos dias em que adversários políticos tornam-se inimigos prontos para guerra insana, muitas vezes promovida nas redes sociais, ambiente em que as regras mínimas de civilidade são renunciadas conforme a leitura caótica do que seria “liberdade de expressão”. No caso de Carter, isso só aconteceu porque a sua matéria-prima humanaera de pacificador vivendo a integridade de sua fé, mediante os valores que ele afirmava, e como disseram seus netos: “o mesmo homem tanto na vida privada quanto na vida pública”. Carter deu roupagem ao seu caráter nas características destacadas no Sermão da Montanha por Jesus Cristo.
O evento do funeral ofereceu à humanidade uma última mensagem dada pelas músicas escolhidas. Em tempos em que a paz ainda está sob risco e o racismo e a desigualdade custam a serem superados, a performance da soprano Phyllis Adams, cantando “AmazingGrace”, dá o recado de quão miseráveis, perdidos e cegos todos somos enquanto não entendemos essa graça magnífica. E o que seria isso? Essa é a coisa que moldou o caráter de Carter fazendo-o ter a coragem de passar por perigos e armadilhas para cumprir a sua missão, mantendo-se integro, inteiro, mediante os seus valores.
Phyllis Adams é negra e trabalha como comissária de bordo, além de fazer parte o grupo gospel Song Rise To Thee. “Amazing Grace”, composta em 1772 pelo britânico John Newton, curiosamente usa o recurso das teclas pretas do piano para tirar um som que, segundo Newton dizia, lhe remetia aos gemidos ouvidos nos porões dos navios durante as viagens, quando trabalhara no tráfego negreiro.
Phyllis Adams emprestou sua voz a Carter nessa canção muito especial para o povo americano. Compaixão e empatia se mostram essenciais para aqueles que promovem o discurso da paz. Ao recordar que Carter fora presidente no cenário da guerra fria, que ele mesmo dizia ter sido um tempo de pressão horrível.
Carter não se reelegeu presidente, porém isso não o impediu de seguir firme em sua verdadeira vocação, a de emissário da paz. Isso abriu o entendimento de que a presidência não era o seu fim, mas uma passagem para aquilo que realmente fazia sentido. O desapego ao poder o tornou maior do que fora como presidente da grande potência ocidental, e seulegado alcançará gerações.
Aos presentes e atentos uma mensagem final também em música, desta vez “Imagine”, de John Lennon, um hino a paz que faz referência a um novo céu e a uma nova terra aos homens de boa vontade.
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Adriana Lagrotta Leles
Jornalista especializada em Gestão da Sustentabilidade