Extremismo religioso não representa a maioria das igrejas
Desde o último dia 12, o pastor Tupirani da Hora Lopes, da Igreja Pentecostal Geração de Jesus Cristo, condenado no último dia 30 de junho a 18 anos de prisão por proferir e difundir discursos de ódio contra a comunidade judaica, voltou a estar em evidência. Dessa vez, em função de um vídeo que circulou pelo twitter em que ele clama a Deus pela morte dos membros do STF. Diferentemente do que se viu em algumas das reações críticas ao vídeo, esse pastor não pode ser considerado uma voz importante do segmento evangélico, porque afinal ele não é. Ele faz parte de um grupo pequeno, uma seita extremista já conhecida por protagonizar várias polêmicas. É conhecida também a posição antissemita desse pastor, fator que acarretou, aliás, na sua detenção e posterior condenação.
Para quem conhece a fundo o evangelicalismo brasileiro, é perceptível o contraste entre o antissemitismo do pastor Tupirani e a imagem que a maioria das igrejas evangélicas conservam do judaísmo e dos judeus. De maneira geral, elas têm uma visão muito positiva de Israel e da fé judaica. Não por acaso isso tem sido motivo de debates teológicos, com algumas vozes salientando essa relação de proximidade entre evangélicos e a fé judaica e reconhecendo haver até mesmo um excesso de judaização das igrejas evangélicas. Esse exemplo do judaísmo ilustra, portanto, como o pastor da Igreja Geração de Jesus Cristo pertence realmente a grupo extremo que de modo algum pode ser considerado uma voz expressiva da igreja evangélica no Brasil.
Não estamos diante de uma peculiaridade brasileira. O caso do pastor Tupirani se assemelha a casos presentes também nos Estados Unidos, de Igrejas pequenas, que embora geralmente carreguem no nome a referência a uma igreja evangélica grande, não pertencem a nenhuma organização evangélica e não fazem parte de nenhum grupo de relacionamento de igrejas. Essas igrejas pequenas são conhecidas justamente por cultivarem discursos de extrema-direita. Nos Estados Unidos esses grupos atuam normalmente assumindo ações provocativas visando a criação e/ou a alimentação de polêmicas. Indivíduos pertencentes à comunidade LGBTQIA+, adeptos do islamismo e seguidores do judaísmo são alguns dos alvos tradicionais das ações movidas por essas igrejas.
De volta ao Brasil e ao caso do pastor Tupirani, uma leitura da totalidade do segmento evangélico feita a partir de uma seita é equivocada. Neste caso, uma vez esclarecido o fato de que a maioria dos evangélicos não está representada na promoção da intolerância e do ódio desse pastor, poderíamos imaginar que a maior parte das denominações evangélicas estaria predisposta a promover o debate em torno desse tema. Porém, não é o que acontece.
O grave crime de assassinato por motivação política ocorrido no último dia 9 no Paraná, para mencionarmos um exemplo recente, não foi, até onde observei, objeto de debate nas igrejas. De certa forma, é até previsível que não seja porque a maioria das igrejas evangélicas não estão interessadas em discutir a fundo as questões relacionadas ao atual cenário de polarização política. Esse assunto, de maneira geral, não frequenta os púlpitos da maioria das igrejas, e provavelmente não frequentará.