Evangelismo é uma religião negra, mas ainda dominada por coronéis
O texto de Allen Callaham, “Cristãos mal-educados” traz uma análise do desenvolvimento da história da Igreja e como esse desenvolvimento ajudou a conter a mobilização dos trabalhadores. Até hoje se usa muito bem a palavra evangélica para manter o povo ordeiro, um povo que não reage, que não se manifesta. Muitos veem esse contingente como um rebanho na mão de pastores mal intencionados. Allen Callahan debate como a religião evangélica já atuava na revolução industrial na Inglaterra do século XVII, fazendo um apelo à transformação individual, à salvação pessoal, e com isso não permitindo que os seus fiéis se identificassem com uma classe trabalhadora que reagisse à opressão.
O texto que Callahan usa na citação inicial, de Marx, muitas vezes é usado de forma distorcida para dizer que Marx não aceitava a religião. Mas a religião é o suspiro da alma oprimida, o suspiro da alma assediada. Inclusive, um livro interessante de Rubem Alves é baseado nesse tema: O Suspiro do Oprimido. Nele, Rubem Alves diz que esse comportamento passivo dos evangélicos ingleses é transferido para os Estados Unidos. Depois, o alvorecer do pentecostalismo traz uma resposta para uma população que já estava desconstruída na sua cultura e nas suas tradições. Por conta disso, o povo vai para as igrejas, especialmente as igrejas pentecostais.
No Brasil, o povo desestruturado pós escravidão migra para as grandes cidades do sul sudeste do país, e é acolhido por essas igrejas evangélicas, que têm uma fala direcionada a eles. Esse povo passa de uma opressão dos coronéis da zona rural e do nordeste do Brasil e vai de novo para a mão dos coronéis: os pastores das grandes igrejas, pastores pentecostais e neopentecostais.
Bem interessante também o que Allen Callahan diz: o evangelismo é uma religião negra, mas que não se identifica com as tradições e cultura nem o povo negro. Então, não há aceitação da sua essência, da sua personalidade. E é justamente isso.
Esse povo não é percebido pela esquerda a princípio. Só depois são acolhidos. Leonardo Boff, católico, Rubem Alves, evangélico, - ambos perseguidos pelas suas igrejas - entre outros grandes escritores vão falar sobre e para essas pessoas.
Mas não deixa de ser interessante quando Callahan afirma que a esquerda perdeu de vista este povo e suas necessidades. Temos, então, o quadro de um povo abandonado que volta a ser presa dos coronéis.
Por todos esses pontos, acredito que o texto de Allen Callahan será um texto que visto como representativo da nossa época. Pelo menos até que a situação mude.