Discurso de perseguição aos evangélicos ainda é presente nas Igrejas
Para a maioria das pessoas, as eleições viram assunto a se pensar ou a discutir no período em que os candidatos são escolhidos, quando a campanha eleitoral na televisão se inicia ou ainda nas últimas semanas antes do pleito eleitoral propriamente dito. Já para os líderes políticos e aqueles imediatamente ligados à dinâmica eleitoral, não é exagero dizer que uma eleição começa a ser pensada assim que anterior acaba. Para líderes religiosos ligados à política, por exemplo, a eleição do ano que vem já começou.
Uma das estratégias mais utilizadas para mobilizar as camadas evangélicas no país é o discurso da perseguição aos cristãos. Desde, pelo menos, 1989 essa estratégia é utilizada em larga escala. Nas eleições do ano passado, essa foi uma das principais abordagens utilizadas por pastores para defender o voto em Bolsonaro: foram inúmeras versões de histórias e narrativas dizendo que Lula iria fechar igrejas, proibir a fé evangélica, perseguir religiosos que não aceitassem realizar casamentos LGBT, etc.
Como essas ameaças não se concretizaram, o discurso dos líderes evangélicos ficou desgastado. Com a aprovação do atual governo em índices razoáveis e, aparentemente, crescentes, e com os benefícios óbvios que a aproximação com o poder constituído proporciona, há incentivos e justificativas razoáveis para líderes evangélicos se aproximarem do campo governista. Como consequência, saímos de um quadro em que quase a totalidade dos líderes evangélicos das grandes igrejas estava fechada com Bolsonaro, para um cenário distinto. Hoje, há aproximações claras de líderes evangélicos no Congresso Nacional com o governo, que só não são mais públicas porque, com a campanha de difamação de Lula e do PT realizada nas igrejas até pouco tempo atrás, esses líderes sofrem até hoje pressões das bases para atuarem na oposição ao governo.
Como o discurso antipetista realizado nas igrejas deixou marcas profundas, e há aqueles líderes que possuem seu capital político intrinsecamente ligado ao campo antipetista da política nacional, há ainda uma ala claramente oposicionista entre evangélicos. Esse grupo ainda é, de longe, o majoritário no segmento. E ele continua utilizando o discurso de que o PT persegue as igrejas, os cristãos e seus valores.
O discurso da vez é que a resolução 715 do Conselho Nacional de Saúde liberaria o aborto e o uso da maconha. O argumento é de que o PT, por debaixo dos panos, estaria arranjando jeitos de impor sua agenda, e logo os valores cristãos seriam abolidos do país. Obviamente, no período eleitoral, o narrativa será a de que será preciso votar em candidatos evangélicos para “barrar as leis que os petistas tentam passar”.
Se engana quem acredita que tais discursos e teorias conseguem poucos adeptos. Principalmente no período “quente” de campanha eleitoral, essas narrativas ganham grande repercussão e possuem impacto significativo no meio. Para evitar maiores estragos, os progressistas deveriam combate-las desde cedo. Mas, aparentemente, para variar, há poucos engajados na tarefa.