Coreanos simpatizam com a ideia de pastor de Inteligência Artificial
A adoção da tecnologia ChatGPT por cristãos na Coreia do Sul, que está gerando controvérsias no contexto em que o cristianismo é a principal religião. Startups locais estão desenvolvendo aplicativos que usam IA generativa para estudos bíblicos e serviços de oração. É esse o assunto do artigo “Pronto para um pastor de IA? Em um futuro não muito distante na Coreia do Sul.”
O texto indica dois serviços que usam inteligência artificial para finalidades religiosas:
- Meadow (Desenvolvido pela Awake Corp.): O Meadow é um serviço baseado em ChatGPT que gera versículos da Bíblia e cria orações quando os usuários compartilham seus problemas com o chatbot e buscam soluções. Este serviço é popular entre os cristãos protestantes mais jovens na faixa dos 20 e 30 anos. É usado como uma ferramenta de apoio para questões espirituais e religiosas.
- Biblely (Desenvolvido pela Voiselah): O Biblely é uma plataforma de áudio da Bíblia que cria áudios da Bíblia gravados com diferentes pastores de igrejas. Ele utiliza tecnologia de IA generativa treinada com a voz de cada pastor. As igrejas podem pagar para produzir suas próprias gravações da Bíblia e fazer o upload delas no Biblely e até no YouTube. Esse serviço é usado para oferecer uma experiência de áudio da Bíblia aos fiéis e é usado por cerca de 120 igrejas parceiras.
A polêmica em torno do uso da IA em contextos religiosos está relacionada à sua capacidade de replicar aspectos da espiritualidade e da religião, bem como às preocupações sobre sua precisão, autenticidade e impacto nas práticas religiosas tradicionais. Detalho a seguir os pontos mais criticados:
Autenticidade Espiritual: Alguns argumentam que a espiritualidade e a religião são experiências profundamente pessoais e espirituais, e a introdução da IA nesses aspectos pode parecer inautêntica e artificial. Há preocupações de que a IA possa comprometer a autenticidade da experiência religiosa.
Possibilidade de Erros: A IA não é perfeita e pode cometer erros, inclusive na interpretação de textos religiosos. Isso pode levar à disseminação de informações incorretas ou interpretações religiosas distorcidas, o que é particularmente problemático em contextos religiosos.
Substituição de Líderes Religiosos: Há preocupações de que a IA possa eventualmente substituir líderes religiosos, como pastores, na preparação de sermões e orientação espiritual. Isso levanta questões sobre o papel dos líderes religiosos e seu impacto nas comunidades de fé.
Falta de Inspiração Divina: Algumas pessoas acreditam que a inspiração divina desempenha um papel fundamental na religião, e a IA não pode replicar essa conexão espiritual. Portanto, a utilização da IA pode ser vista como carente desse aspecto fundamental.
Ética e Responsabilidade: A IA pode ser programada com diferentes crenças e valores, o que levanta questões éticas sobre quem controla a IA e como ela é usada em contextos religiosos. Além disso, há preocupações sobre a responsabilidade quando a IA comete erros ou dissemina informações prejudiciais.
*Os textos publicados pelo Observatório Evangélico trazem a opinião e análise dos autores e não refletem, necessariamente, a visão dos demais curadores ou da equipe do site.
Juliano Spyer é antropólogo, pesquisador do Cecons/UFRJ, autor de Povo de Deus (Geração 2020) e criador do Observatório Evangélico.