Como as Igrejas lidarão com Bolsonaro condenado por corrupção?

Como as Igrejas lidarão com Bolsonaro condenado por corrupção?

Nessa sexta-feira, dia 11 de agosto, as notícias dão conta de que Bolsonaro teria criado um esquema para receber dinheiro vivo com a venda de jóias doadas para a presidência de república. É a vez que Bolsonaro está mais perto de um escândalo de grandes proporções. Comprovadas as acusações, Bolsonaro sofrerá uma grande desmoralização e poderá, inclusive, ir preso.  Nessa hipótese cada vez mais plausível, a pergunta que fica é como ficará sua imagem entre os religiosos

É claro que, apesar de a retórica anticorrupção ainda ser parte das narrativas associadas ao bolsonarismo, essa temática há tempos não é mais o ponto central de sua formulação política. Essa tendência é observada, aliás, em todo o espectro político da direita. Se durante o auge da Operação Lava Jato a esquerda e o petismo eram tachados de corruptos, com a ascensão da direita ao poder após o impeachment de Dilma, o discurso moralista perdeu gradativamente sua força diante de cada novo escândalo político.

No contexto dos grupos religiosos, essa dinâmica não  foi diferente. Embora o discurso anticorrupção tenha sido uma parte fundamental da postura antipetista dos líderes evangélicos, servindo inclusive para aproximar esses líderes do bolsonarismo, esse elemento tem perdido importância ao longo do tempo para dar lugar ao discurso perene das pautas morais.

Ainda que haja semelhanças entre os conservadores religiosos e o restante do campo da direita, há diferenças a serem consideradas, e uma delas é um relação justamente à pauta da corrupção: se entre o público direitista geral é possível um discurso do tipo “todos são corruptos, mas apóio fulano por tal motivo”, entre religiosos, ignorar a corrupção não é tão simples assim - principalmente para os líderes e pastores.

Nas vezes passadas em que a surgiam notícias ou denúncias relacionadas à família Bolsonaro,  o discurso predominante era algo do tipo: “Caso seja provado algo contra ele vamos reavaliar, mas isso ainda não aconteceu, e ele é um aliado das nossas pautas”.

Agora, parece que estamos muito perto do momento em que algo será provado e Bolsonaro será efetivamente condenado. Podemos, portanto, esperar um efeito no apoio evangélico ao campo bolsonarista.

*Os textos publicados pelo Observatório Evangélico trazem a opinião e análise dos autores e não refletem, necessariamente, a visão dos demais curadores ou da equipe do site.


Vinicius do Valle é Doutor e mestre em Ciência Política pela Universidade de São Paulo (USP). Graduado em Ciências Sociais pela mesma Universidade (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas - USP). Realiza pesquisa de campo junto a evangélicos há mais de 10 anos. É autor, entre outros trabalhos, de Entre a Religião e o Lulismo, publicado pela editora Recriar (2019). É diretor do Observatório Evangélico e professor universitário, atuando na pós-graduação no Instituto Europeu de Design (IED) e na Faculdade Santa Marcelina, ministrando disciplinas relacionadas à cultura contemporânea e a métodos qualitativos. Realiza pesquisas e consultoria sobre comportamento político e opinião pública. Está no Twitter (@valle_viniciuss).