Assassinatos na Amazônia repercutem pouco entre evangélicos
A repercussão do assassinato de Bruno e Dom na Amazonia, entre os evangélicos foi mais presente entre os evangélicos progressistas, sobretudo àqueles ligados à teologia da missão integral. Os grupos que acompanho grupos, ligados à ecoteologia evangélica lamentaram e repudiaram. Houve notas como a do Conic, da Aliança Cristã Evangélica Brasileira, que repudiando o crime, pedindo investigações e apontando problemas na Funai. As manifestações mais incisivas foram essas.
Entre o evangélico comum, o tema não repercute muito, assim como outros crimes que recorrentemente acontecem na Amazônia. Isso se dá porque, por um lado, estamos falando de uma realidade distante, e por outro, existe o fato de que a grande parte dos evangélicos pentecostais e neopentecostais estão inseridos em contextos tão violentos quanto. Todo dia eles têm uma notícia parecida, e muito mais próxima da realidade deles. Há, portanto, uma anestesia. Tradicionalmente, os crimes relacionados à questão ambiental geram maior repercussão para classe média e classe média alta, que é exposta e se afeta com a repercussão internacional que essas tragédias levam.
E se por um lado estamos falando de um tragédia que não é próxima da realidade da maior parte da população evangélica, por outro lado, também os autoproclamados porta vozes e lideranças pouco ou nada repercutem ou se envolvem. Para Silas Malafaia, Edir Macedo e bancada evangélica, a mesma flexibilização que favorece o garimpo e a pesca em terra protegida é a flexibilização que favorece também a entrada de igreja evangélica nos territórios. É a ideia de um Estado mínimo que articula esse grupo. A famosa bancada do BBB tem como eixo de articulação a desregulamentação. Cada um pode atuar no seu interesse, mas os três setores estão interessados em desregulamentação.
Por isso, dias depois de acharem os corpos, estavam na Amazônia Bolsonaro e Silas Malafaia em uma motociata. Malafaia, depois da motociata participou de um Congresso Evangélico no Sambódromo de Manaus. Podemos por esse fato, observar: se houvesse uma repercussão maior no meio, não iria estar ocorrendo um evento evangélico no sambódromo, com seus Malafaia e o Bolsonaro juntos, poucos dias depois da morte e de acharem os corpos.
A Amazônia é um território que está no centro da disputa religiosa no Brasil. O Sínodo da Amazônia, da Igreja Católica, não foi à toa. A Igreja Católica tem uma inteligência institucional avançadíssima, e eles sabem que ali é um lugar onde eles estão em crise - e essa crise favorece o crescimento dos evangélicos. Se você pegar os documentos do sínodo da Amazônia, você vai ver que, a discussão presente, em grande parte, é a de como fazer frente ao avanço evangélico neopentecostal. E a pauta ecológica é mobilizada em contraposição aos evangélicos. Há uma identificação, por parte da própria Igreja Católica, de que o catolicismo está perdendo adeptos na região, e de que um dos jeitos de contrapor esse o evangélico é mostrar que ele tem efeitos ecológicos deletérios.
Realmente, é um interesse para lideranças evangélicas a desregulamentação da área. Bruno Pereira, quando saiu da Funai, foi substituído por um pastor, que foi indicado pela ex-ministra Damares Alves e ficou no cargo por cerca de um ano. Seu interesse era alcançar e estabelecer uma rede para a conversão dos índios isolados. É um território que está sendo bem disputado esse mercado religioso contemporâneo do Brasil.