Análises de destaque na imprensa
Evangélicos dos EUA estimulam cultura de abusos ao defender Trump
Estreou nesta semana o podcast "The Sons of Patriarchy" ("Os Filhos do Patriarcado"), que discute o impacto político e cultural de um pastor controverso, Douglas Wilson, acusado de encobrir casos de abuso e pedofilia. Wilson é influente também no Brasil e, em janeiro deste ano, gerou polêmica ao ser escolhido como palestrante principal na maior conferência evangélica do país, apesar de sua visão ambígua sobre a escravidão. Wilson tenta persuadir seus seguidores a votarem em Trump. Para ele, a escolha é evidente: a agressividade do republicano é uma resposta bem-vinda a uma agenda esquerdista igualmente agressiva. Há líderes evangélicos conservadores no Brasil que compartilham dessa visão. Por conta desse inimigo comum, muitos recusam-se a acreditar nas histórias de abuso que se acumulam no ministério de Wilson em Moscow e em igrejas afiliadas —casos que o podcast promete explorar nos próximos episódios. Enquanto isso, sobreviventes de abuso espiritual e sexual em igrejas evangélicas manifestam unanimemente sua rejeição a Wilson e Trump, denunciando-os com veemência em suas redes sociais ( Folha de São Paulo)
Na semana da Reforma Protestante, um aviso: evangélicos estão se convertendo ao catolicismo
Pouco falado ou descrito, o fenômeno da conversão de evangélicos ao catolicismo pode ser visto como uma fuga aos muitos ruídos causados pelas lideranças dessas igrejas, com suas disputas políticas e ideológicas; ao volume alto das "megachurches" e seus pastores midiáticos; à procura por uma partilha espiritual menos espetacular e mais silenciosa, inspirada nos chamados pais do deserto. Resumo o relato de minha amiga, líder de uma organização internacional da sociedade civil de grande impacto, em três grandes argumentos: a busca por uma interpretação mais ampla das Escrituras Sagradas, que diferencie o literal do simbólico; a necessidade de ter uma experiência espiritual mais mística e contemplativa; a procura por uma experiência estética. ( Folha de São Paulo)
O espírito de Lutero ainda vive na diversidade evangélica?
No último 31 de outubro, comemorou-se o legado de 507 anos da Reforma Protestante, movimento que moldou não apenas a religião, mas também a cultura, a educação e a política no Ocidente. No Brasil, essa herança se diversificou ao longo das décadas, revelando um campo evangélico plural e, muitas vezes, conflituoso. Para o autor, que cresceu em uma família protestante nos anos 1980, a identidade evangélica passou por transformações de significado e aceitação. Se antes havia orgulho no impacto social do protestantismo, especialmente em temas como alfabetização e ética do trabalho, o crescimento do movimento trouxe também tensões com interpretações que divergem de sua vivência pessoal. Essa pluralidade, embora complexa, é o próprio cerne do protestantismo, que se baseia no direito à interpretação individual das escrituras, princípio defendido por Martinho Lutero em 1521. Para o autor, o protestantismo implica abertura para novas leituras, inclusive aquelas com as quais ele não concorda. Valorizando a liberdade de consciência, ele reconhece que a essência do movimento se esvazia se for negado o direito à diversidade de opiniões e interpretações. (Folha de São Paulo)
O feriado da Reforma Protestante em uma Alemanha cada vez menos cristã
A cidade de Wittenberg, com sua história ligada a Martinho Lutero e às 95 teses que iniciaram a Reforma Protestante em 1517, ainda celebra o feriado da Reforma em 31 de outubro, apesar da crescente secularização na Alemanha. A data, que passou por controvérsias durante o domínio socialista da Alemanha Oriental, voltou a ganhar relevância após a reunificação em 1990, adquirindo um valor simbólico como marco de unidade nacional. Em 2017, Angela Merkel declarou o feriado em todo o país para celebrar os 500 anos da Reforma, destacando temas como democracia e liberdade religiosa, em um contexto onde apenas 40% da população ainda se identifica como cristã. As comemorações hoje ressignificam a data, unindo passado religioso e valores contemporâneos de unidade em um país que enfrenta desafios de tolerância e coexistência. (Folha de São Paulo)
Um Museu da Bíblia em Brasília: para quê?
Em meio ao debate sobre cultos religiosos em escolas de Pernambuco, surge a reflexão sobre o projeto de construção do Museu Nacional da Bíblia em Brasília, uma iniciativa defendida pelo governador do DF, Ibaneis Rocha, e pela Frente Parlamentar Evangélica. A ideia, que enfrenta resistência judicial e foi suspensa pelo STJ, envolve R$ 26 milhões de verbas públicas para erguer o prédio no Eixo Monumental. A proposta, porém, é criticada por ser confessional, enfocando a Bíblia exclusivamente como texto sagrado cristão, sem contemplar um acervo museológico diversificado ou um projeto pedagógico que valorize a Bíblia como fenômeno cultural e literário, com importância histórica e social. Embora patrimônios religiosos como igrejas e terreiros sejam preservados com recursos públicos, a proposta do museu é vista como um favorecimento a uma visão religiosa específica, desrespeitando a laicidade do Estado. Críticos sugerem que uma instituição voltada à diversidade religiosa brasileira, incluindo a Bíblia como parte desse legado, seria mais adequada, ampliando o conhecimento cultural e respeitando a pluralidade de crenças. (Folha de São Paulo)
O Dia de Finados entre cinzas e QR Codes
Dia de Finados, é o momento de lembrar nossos entes queridos que já se foram. Embora o feriado permaneça o mesmo, o significado da morte e as formas de homenagear os mortos mudaram. Funerais estão mais breves, surgiram os cemitérios-jardim e muitos escolhem a cremação em vez do enterro. Mas será que essas mudanças são positivas ou negativas? Já ouviu falar de "sepultura ecológica"? Trata-se de uma tendência emergente em cemitérios de alto padrão: o falecido é cremado, e suas cinzas são misturadas ao solo ao pé de uma árvore previamente escolhida. Junto a isso, um QR Code permite que os visitantes acessem um vídeo com as melhores lembranças do ente querido. É perturbador imaginar que a experiência de um funeral possa se reduzir a um espetáculo tecnológico, onde a dor e a saudade são trocadas pela frieza de um QR Code e uma vida inteira seja resumida a 40 segundos de vídeo. Precisamos refletir se essa "evolução" tecnológica não nos afasta da essência do luto e da reflexão sobre a finitude. Em uma sociedade hiperconectada, corremos o risco de nos desconectarmos do que realmente importa: a memória, o afeto e a preservação da história daqueles que amamos (Folha de São Paulo).