Agressão em nome da religião: casos de intolerância no Brasil
Em poucas semanas, acompanhamos nas mídias dois episódios lamentáveis. Um pastor publicizou parte desastrosa de sua pregação, em que afirma serem diabólicos o Islamismo, o Budismo e as religiões de matrizes africanas. Como resposta, a Associação Nacional de Juristas Islâmicos (ANAJI) e o Instituto de Defesa dos Direitos das Religiões Afro-brasileiras (IDAFRO), entraram com processo, por crime de ódio religioso, contra o líder da igreja. Dias depois, também somos informados que uma motorista de aplicativo é violentamente agredida quando identificada pelos passageiros como evangélica. Visivelmente machucada, a trabalhadora foi encaminhada ao hospital e os agressores detidos.
Esses casos, ao lados de tantos outros, são amostras da nossa pouca sensibilidade democrática e ignorância, o que denuncia o quanto a relação harmoniosa necessária no convívio na alteridade ainda é um desafio no Brasil.
A liberdade religiosa é um dos principais pilares de Estado Democrático de Direito. Marco civilizatório da Modernidade, a Declaração Universal dos Direitos Humanos, no Artigo 18, exorta que “Todo ser humano tem direito à liberdade de pensamento, consciência e religião; esse direito inclui a liberdade de mudar de religião ou crença e a liberdade de manifestar essa religião ou crença pelo ensino, pela prática, pelo culto em público ou em particular”. Para saúde das democracias, o fortalecimento desse princípio deve ser desenvolvido em diversas frentes, desde políticas públicas efetivas, no fortalecimento dos mecanismos de denúncia, à educação, afim de estabelecermos a cultura da paz.
Hans King, em sua famosa frase, afirmou que “não haverá paz entre as nações sem a paz entre as religiões”.
Mesmo que a reflexão do grande teólogo seja feita a partir de perspectivas geopolíticas, aplica-se também aos nossos desafios nacionais, pois o que temos testemunhado é um tipo de guerra religiosa, o que, caso não tomemos outros rumos, produzirá muitas outras vítimas.
*Os textos publicados pelo Observatório Evangélico trazem a opinião e análise dos autores e não refletem, necessariamente, a visão dos demais curadores ou da equipe do site.
Kenner Terra é doutor em Ciências da Religião pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP). Pastor da Igreja Batista Betânia, RJ, e Coordenador do Curso de Teologia da Universidade Celso Lisboa. Membro da Associação Brasileira de Interpretação Bíblica (ABIB) e da Rede Latino-americana de Estudos Pentecostais (RELEP). Acompanhe o Kenner no YouTube, Twitter e no Instagram.