Ações missionárias em espaços públicos podem desvirtuar religião
O movimento missionário de evangélicos reunidos em espaços públicos para a realização de louvores é uma prática já conhecida entre algumas denominações. No contexto presente ela está relacionada à acelerada expansão da religião evangélica.
Por meio desse movimento, igrejas têm conseguido naturalizar suas formas de demonstração de fé. Mas não apenas isso. É evidente o interesse das igrejas em expandir sua fé e conquistar mais fiéis. Interesse que se volta também para o aumento do poder político e econômico das denominações, visto que a conquista de mais fiéis implica em mais dízimo e em mais eleitores potenciais dos candidatos apoiados pelos líderes.
Apesar de achar uma iniciativa válida, pessoalmente tenho dificuldade em apoiá-la. O missionarismo efusivo de ações coletivas pelos espaços da cidade me traz a impressão de operar um desvirtuamento da religião evangélica, pois tal recurso parece mirar uma ampliação acelerada do número de fiéis, como se a quantidade de membros atraídos pela igreja consistisse no fundamento da ação missionária. Ocorre que sem a verdadeira conversão o evangelho não é alcançado.
Mas o que adianta a ampliação do número de fiéis por meio de iniciativas de grande alcance imediato se não há um trabalho de evangelização capaz de converter efetivamente a pessoa? Os grupos que realizam tais ações o fazem porque acreditam que elas podem ser um ponto de partida para a transformação real dos convertidos, ou eles visam apenas expandir seu poder?
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Mônica Ruiz é antropóloga, mulher preta e evangélica neopentecostal.