Aborto não deve ser debatido junto com drogas ou educação sexual
Para se dialogar com cristãos, uma das condições é que a temática do aborto não seja discutida junto com assuntos como legalização da maconha ou educação sexual.
O aborto é uma questão muito cara para nós. Ele não é discutido diretamente na Bíblia, mas está em um dos documentos mais antigos da fé cristã, produzido no primeiro século ou no começo do segundo século depois de Cristo, que é o Didaquê.
O aborto é um caso especial porque os outros temas, como a legalização das drogas, dá margem para o cristão dizer que não está de acordo, mas que as outras pessoas têm liberdade de consciência para escolher como conduzirão suas vidas.
O aborto não pode ser visto dessa forma porque ele não diz respeito apenas à consciencia da outra pessoa. Existe outra vida envolvida. E por existir essa outra vida e por considerarmos a preservação da vida algo fundamental, não aceitamos que o aborto seja uma opção do indivíduo. A sociedade tem a obrigação de preservar a vida.
Esse assunto é tão importante que aparece, por exemplo, na atuação dos missionários que atuaram e atuam para proteger as vidas de crianças nascidas em culturas que permitem o sacrifício de crianças. Alguns povos aceitam o sacrifício de bebês que nascem deficientes, ou de um dos gêmeos, ou ainda de um bebê do sexo feminino - porque os pais preferem ter um filho homem. Isso não éaborto, mas é tratado da mesma maneira porque é o mesmo princípio que está em jogo: o da preservação da vida.
Daí talvez me perguntem como é que nós devemos agir sabendo que dezenas de abortos acobtecem em clínicas ilegais e que os pobres são os que sofrem mais com essa situação.
Não nego essa realidade, mas entendo que existem outras alternativas para atacar esse problema. Uma solução é promover conscientização sobre, por exemplo, formas de controle da natalidade. E a justiça deve ser rigorosa também para punir as clínicas ilegais disponíveis para quem é rico.
Não é um tema fácil. Não acho que essas soluções resolverão completamente o problema, mas elas reduzirão a quantidade de situações de gravidez indesejada e diminuirão também a injustiça que vigora hoje com as pessoas que têm dinheiro podendo burlar as leis e os pobres sendo punidos pela baixa qualidade dos serviços governamentais disponíveis para eles.