A resposta que Jesus daria aos contra-ataques desproporcionais de violência

A resposta que Jesus daria aos contra-ataques desproporcionais de violência

Se o ser humano fosse propenso a dar respostas proporcionais aos atos de violência contra ele causados, será que teria sido necessário aos legisladores criar a lei de Talião?

Mais antiga até que os registros da Torá, dos hebreus, a lei de Talião, presente no Código de Hamurabi dos babilônios e também conhecida como lei da retaliação, estabelecia uma pena semelhante à ofensa cometida, e servia para sentenças envolvendo violência física contra pessoas e animais, roubos ou prejuízos financeiros de vários tipos.

É a lei do olho por olho, dente por dente. A ideia é que quando alguém nos fura um olho (simbolicamente ou não) nós temos o direito de furar apenas um olho do adversário, mesmo que nosso desejo seja furar-lhe os dois e ainda por cima lhe dar um chute na barriga. O legislador, para evitar que um gesto de “justiça” se transformasse em um ato de “vingança” declara – olho por olho. Se você arranca um dente do meu animal, eu tenho o direito de tirar um dente do seu, mas não de esquartejá-lo, embora, possivelmente, esta seja a minha vontade.

Nosso impulso humano é sempre revidar com violência maior. Nós queremos vingança. A lei de Talião, que pode, à primeira vista, parecer uma senha para a vingança, na verdade é um limitador da vingança. Na lei dada aos hebreus, no Antigo Testamento, reverenciada pelos judeus ortodoxos, está decretado: “...o castigo deverá corresponder à gravidade do dano causado: vida por vida, olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé, queimadura por queimadura, ferida por ferida, contusão por contusão”. (Êxodo 21:23-25)

Mas, seria factível aplicar esse preceito em situação de guerra? Esta pergunta ficou martelando em minha mente nesta última semana. Pois me chamaram a atenção os vários questionamentos de uma mídia ávida por conhecer a opinião de comentaristas sobre qual teria sido uma resposta “proporcional” ou “justa” aos ataques que o Hamas fez contra o povo de Israel. Disseram – a resposta foi desigual, desmedida, injusta. Qual seria, contudo, uma resposta que refletisse a lei de Talião? E mesmo que houvesse critérios eficientes para defini-los, como aplicá-los em tempo hábil?

Numa guerra, minha impressão é que nenhum dos lados está em busca de devolver a agressão na mesma medida. Não. O que se quer é aniquilar o inimigo, seja a que preço for. A reação dos EUA ao jogar duas bombas atômicas contra os japoneses foi proporcional às ofensivas do país na Guerra do Pacífico?

Na guerra, o proporcional perde validade. E afirmo isso não porque defenda este ‘princípio’ ou para tentar justificar contra-ataques apocalípticos. É uma simples constatação do que testemunhamos na vida real.

A única arma capaz de desativar as reações desproporcionais de vingança é a “bomba” do amor. Ao citar a lei da retaliação, Jesus amplia o significado de uma regra pensada, no fundo, como um gesto de misericórdia: “Eu vos digo, porém, que não resistais ao homem mau; mas, se qualquer te bater na face direita, oferece-lhe também a outra” (Mateus 5:39) Ou seja, ele ensina que, além de aceitar sem revidar, o ofendido deve submeter-se, calado, a um constrangimento ainda maior.

É, talvez, o ensinamento cristão mais difícil de se aplicar.


Marília de Camargo César nasceu em São Paulo, é casada e tem duas filhas. Jornalista, é editora-assistente de projetos especiais do Valor Econômico, maior jornal de economia e negócios do Brasil. É também autora de livros que provocam reflexão nas lideranças evangélicas. Suas obras mais conhecidas são Feridos em nome de Deus, Marina — a vida por uma causa e Entre a cruz e o arco-íris.