A religião em sala de aula

A religião em sala de aula

Uma grande bandeira da guerra cultural é o perigo oferecido às crianças em sala de aula. Muitos evangélicos associam o perigo comunista àquilo que está sendo ensinado por professoras e professores todos os dias aos seus filhos. Um professor, por exemplo, pode utilizar como material didático uma notícia de jornal que acusa pastores evangélicos de serem manipulares, seja em busca de retorno financeiro ou eleitoral. Isso tem acontecido.

Por outro lado, há também profissionais da educação, nas mais diversas funções, que utilizam o espaço escolar para proselitismo. Essas pessoas utilizam de sua posição nesse espaço para influenciar as crianças com sua fé e, quem sabe, trazê-la para o seio da igreja. Tal prática ganha contornos transculturais em alguns casos. Em Foz do Iguaçu-PR, está a segunda maior comunidade árabe do Brasil. São cerca de 20 mil pessoas, originárias ou descendentes de países como Líbano, Síria e Palestina. Considerando que a cidade tem pouco mais de 300 mil habitantes, pode-se imaginar a força dessa presença na comunidade local.

Determinado dia, buscando minha filha na escola, ouvi dela que a professora tinha feito uma oração em sala de aula. Não posso afirmar que a professora fosse evangélica, mas ao menos cristã com certeza. Pensei: como se sentiriam os pais de uma criança muçulmana se soubessem disso?

Se por um lado há uma crítica aos professores e professoras que expõe as crianças a conteúdos críticos que, em alguns casos, podem ser contrários ao cristianismo, por outro também há profissionais da educação que atuam em escolas públicas e levam sua prática religiosa para dentro do espaço de ensino de modo explícito. Este último caso talvez seja admitido ainda em função da herança colonial de nosso país. Em tempos passados, ser brasileiro era sinônimo de ser católico. Assim, as fronteiras entre igreja e Estado não eram muito nítidas e o trânsito da prática de fé era até irrestrito em instituições públicas de educação. Com o avanço dos evangélicos e também uma maior presença da religião no espaço público, alguns grupos talvez estejam repetindo os mesmos erros do passado.

*Os textos publicados pelo Observatório Evangélico trazem a opinião e análise dos autores e não refletem, necessariamente, a visão dos demais curadores ou da equipe do site.


João Barros é evangélico há mais de 20 anos. Doutor em Filosofia e doutor em Ciências Sociais (UBA-AR), atualmente leciona no Programa de Pós-graduação em Integração Contemporânea da América Latina (PPGICAL) e no curso de Ciência Política e Sociologia da UNILA. É autor de Poder pastoral e cuidado de si em Foucault (2020) e Biopolítica no Brasil – uma ontologia do presente (2022). Também coordena o projeto Evangélicos e política na América Latina. Contato: joao.barros@unila.edu.br .