A igreja adventista e a expansão do conhecimento sobre o mundo
Ao contrário do que costumam pensar aqueles que observam de longe o crescimento da religião evangélica no Brasil, o trabalho desempenhado pelas igrejas nas comunidades em que elas estão instaladas gera uma série de impactos positivos na vida de muitos evangélicos, impactos esses decisivos para o aumento do bem-estar e da qualidade de vida dessas pessoas.
Com o objetivo de comunicar um aspecto específico da importância das igrejas evangélicas na vida daqueles mais vulneráveis, compartilho com o leitor exemplos recolhidos de minha trajetória pessoal. Faço menção ao alargamento da sociabilidade promovida por algumas igrejas evangélicas.
Até os meus 18 anos, quando acessei a universidade, meus espaços de sociabilidade quase que exclusivamente tinham relação com a igreja. Estudei em escolas adventistas com bolsas parciais desde a primeira série do fundamental até o final do ensino médio em dois países diferentes. Devo à igreja, portanto, a oportunidade de conhecer outras culturas. Além disso, participei do clube de desbravadores (instituição similar ao clube de escoteiros) dos 10 aos 18 anos, onde pude viajar e acampar por muitos lugares do Brasil e EUA, desenvolvendo assim a oratória, a prática de trabalho em grupo, além de outras lições que levarei para vida toda.
Para mim e para outros membros da igreja que pertenço, a diversidade de vivências que nos foi proporcionada não se restringe a essas experiências de intercambio internacional. A rede de relações mantidas pelas igrejas adventistas possibilita a muitos evangélicos a experiência de transitar por outros espaços da cidade que não o seu bairro. Quando a igreja local em que congregavamos ficava entendiante eu e meus amigos visitávamos igrejas de outros bairros. Na Vila Mariana visitávamos a comunidade árabe constituída em sua maioria por descendentes de árabes adventistas, na liberdade visitávamos a comunidade coreana, constituída em sua maioria por descendentes de coreanos adventistas. Além dessas igrejas marcadas por tradições culturais e étnicas específicas, cabe notar que existem igrejas adventistas associadas a diferentes classes sociais, cada qual caracterizada por assumir distintas roupagens de culto (mais tradicionais, mais animados, mais jovens, etc.). O trânsito entre elas, portanto, possibilita diferentes tipos de sociabilidade.
A articulação entre as igrejas adventistas promovia entre a gente aquilo que a antropologia urbana define como um circuito, um trânsito que nos permitia conhecer a cidade, algo não tão comum para os moradores da região onde moro, no extremo sul de São Paulo, ou mesmo para jovens de classe média baixa. Na minha família encontro um exemplo. Tenho um primo de 14 anos que junto com meus tios não frequentam a igreja, e ele me relatou que não conhece o Parque do Ibirapuera e a Avenida Paulista. Graças a rede de relações que mencionei, na idade dele eu já havia participado várias vezes de eventos nesses dois locais.
Os circuitos promovidos pela igreja adventista levam a descoberta de lugares e, claro, das pessoas que habitam esses lugares. Quando me mudei para locais como Foz do Iguaçu, República Tcheca e Maringá, eu já sabia onde eu poderia encontrar apoio nesses locais. Por exemplo, no primeiro sábado que visitei uma igreja em Foz do Iguaçu recebi um convite para almoçar na casa de irmãos desconhecidos. Esse tipo de comunhão, gentileza e solidariedade entre os membros da igreja, algo que presenciei em minhas vivências, é o que organiza e permite os circuitos culturais aludidos neste texto. As igrejas, nesse sentido, proporcionam a seus membros uma expansão do seu conhecimento sobre o mundo e local em que habitam.