A exclusão de igrejas batistas por conta da consagração de pastoras
"Eu não sou pecadora por ser mulher" (Lottie Baird)
Tempos difíceis os nossos. Tão difíceis que a obviedade acima, lida em qualquer contexto, da academia aos grupos religiosos, não deveria fugir ao bom senso para sua ampla aceitação. No entanto, não é isso que acontece. Na mesma semana na qual quase 85% dos brasileiros declararam em pesquisa confiar mais em homem do que em mulher, os batistas estadunidenses da Convenção do Sul, reafirmaram, de modo acachapante, a exclusão de igrejas que ordenaram pastoras. O caso ganhou maior repercussão pelo fato de uma das igrejas excluídas ter sido justamente a de Saddleback, que durante muitos anos teve na sua liderança o pastor Rick Warren, que se tornou referência mundial, inclusive admirado e decantado em terra brasilis. Lottie Baird é uma jovem citada na reportagem do The New York Times que sente-se vocacionada para o ministério pastoral e que, ao que tudo indica, descobriu, desde cedo, que em agrupamentos fundamentalistas, a misoginia e o cerceamento do espaço para mulheres impera.
Alguém poderia objetar que nada temos a ver com isso. Ledo engano, meu prezado leitor, minha cara leitora. O filósofo Eduardo Bolsonaro, no tempo em que estudou entre as escolas de chefstock, frigo e tramontina, acertou ao dizer que o que acontece nos Estados Unidos, acontece no Brasil. Especialmente quando se fala de religião e mais ainda dos batistas.
O trágico desse movimento de expurgo é que não são poucas as pastoras batistas que possuem discurso mais conservador do que os conservadores. De igual modo, várias aderiram ao projeto de poder do clã, apesar de toda misoginia patente, e de toda violência de gênero latente, que agora os casos na direção da Caixa Economica Federal e na Anvisa, começam a mostrar. Também não são poucas as que participam da fritação de colegas moderados a quem, em última análise, devem a possibilidade de realização dos seus concílios de ordenação.
Infelizmente essa onda chegará aqui. E quando isso acontecer, elas possivelmente se encontrarão como o pastor luterano Martin Niemöller, que viu grupos de comunistas, judeus, negros, serem levados pelos nazistas, sem que erguesse sua voz em protesto. Na hora de sua vez, não havia ninguém que pudesse ouvir a sua voz.
Termino dizendo que, pessoalmente, acredito que sob essa temática, os batistas da CBB sofrerão novo racha. Os fundamentalistas só aguardam o respaldo político para tanto, uma espécie de ressurreição de Bolsonaro. A ver.
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